terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Grande Decadência, Epílogo

Peço perdão àqueles que perderam uma grande parcela de tempo lendo o primeiro post. Quando digitei a parte final, morria de sono, portanto, apressei-me a fechar logo essa idéia, de forma que esta ficou mal finalizada. Então venho através deste me corrijir.
No último parágrafo da discussão, fiz entender que queria que todos vivéssemos pra sempre no espaço. Não foi essa a idéia.

Vejam bem: a expansão espacial a que me referia não quer dizer tão somente viagens entre planetas. Claro que não. Pense no homem como qualquer outro ser: é inerente ao animal homem habitar, ou mesmo explorar, de qualquer forma, o fundo dos oceanos, por exemplo? Por expansão espacial, quis dizer a anexão de novas possibilidades de sobrevida. De espaços aos quais o ser humano não pertence, ou não deveria ser capaz de conseguir recursos, o homem os fez viáveis. Portanto, expandiu-se.

---

Amanhã continuarei o diálogo.

- Ao som de: Queens Of The Stone Age - I Never Came -

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Grande Decadência, Parte I

Esses dias, voltando da faculdade de ônibus - mais especificamente, enquanto passava pela Ponte Rio-Niterói, - tive um momento epifânico. Senti, naquele instante, que havia realizado uma indagação que me acompanharia por toda a vida. Então, compartilharei esse pedaço de filosofia com os demais leitores desse blog, para que, no caso desta ser tão positiva quanto eu a imagino, possamos todos refletir sobre a mesma. Colocarei esta reflexão aqui da mesma forma, ou da forma mais próxima possível, àquela que contei a alguns amigos, portanto, se estes lerem este relato, não me crucifiquem.

---

Imagine um leão, dentro de uma jaula, em um zoológico. Nesta jaula, estão reunidas, de forma básica, as condições necessárias à sobrevivência do leão, fornecidas pela equipe do zoológico. Dele é tomado cuidado, e seu "lar" é sempre monitorado e mantido idealmente. Mas agora, imagine que nesse mesmo cenário, não haja quem faça a manuntenção da jaula. Não há quem alimente o leão, quem limpe sua jaula, deteriorando seu ambiente até que nele não seja possível que o leão sobreviva, e levando invariavelmente à sua morte.
Esse fenômeno é comum a todos os seres vivos. Pode-se usar o exemplo de culturas de bactérias: quando se cultiva bactérias em laboratório, estas são inoculadas em um caldo contendo os nutrientes necessários à seu crescimento, e são mantidas em condiçoes ambientais ótimas. E verifica-se que com elas acontece o mesmo que com o leão do cenário supracitado; após a depleção dos nutrientes do meio de cultura, estas bactérias morrem. Assim como os seres humanos, que mantidos isolados de tudo definham até o amargo fim.
Portanto, concluo a partir dessas observações que a tendência natural do ser é decair;

Porém, mudemos um pouco a forma de ver, novamente, a alegoria do leão. Esse mesmo animal, se estivesse em seu habitat natural - no caso deste, a savana, - se deterioraria, de forma a obliterar-se no processo? A resposta é óbvia: não. Analisando o porque, percebe-se que a natureza renova o espaço físico que circunda o leão - e todos os demais seres nela contidos. Num espaço limitado, como numa jaula, se o leão devorasse todo seu alimento de uma vez (uma zebra, por exemplo), esta não poderia multiplicar-se de forma a propiciar a renovação do alimento necessário a sobrevivência do leão. Assim como no caso das bactérias: se a essa cultura não forem cedidos mais nutrientes, essas bactérias consumirão todo ele, até que morram pela falta do mesmo. Conclue-se então, que a mesma natureza que causa a decadência de todos os seres é aquela que permite a continuidade destes em seu lugar de origem.

Dessa máxima, extrai-se outra: a capacidade de expansão dos seres vivos é essencial à sua sobrevivência. Se as bactérias pudessem sair livremente do recipiente em que se encontram, estas encontrariam outras fontes de nutrientes para saciar seu crescimento. Mesmo princípio na alegoria do leão: se este escapasse, naturalmente ele teria uma maior área física para conseguir suas condições ideais de sobrevida, permitindo a renovação da natureza, e impedindo a deterioração do espaço.

Mas é nesse ponto em que inserimos o ser humano na discussão. O homem usa os recursos da natureza em uma escala maior do que aquela que o espaço físico do mundo em que vivemos permite à natureza que os renove. Então, segundo o raciocínio seguido até esse ponto, o ser humano irá se utilizar da natureza até que os recursos que ela fornece a ele terminem, culminando em seu fim. A menos que este encontre uma forma de expandir seu espaço físico.

Aí sim, chegamos ao ponto principal da primeira parte desta discussão. O homem tem a real possibilidade de ser a primeira forma de vida a driblar esse limite imposta aos seres vivos pela natureza, ao se expandir para espaços inatingíveis para qualquer outro antes dele: curiosamente, como num jogo de nomes, a expansão ao espaço, com o advento das viagens espaciais, pode ser o passo pioneiro na destruição da cadeia evolutiva. Se este universo que habitamos é realmente infinito, as possibilidades de expansão também o são, possibilitando, mesmo que remotamente, a continuidade eterna da raça humana, e a contradição da própria natureza.

---

Continuarei essa discussão amanhã, em outro post. Estou há mais de uma hora digitando essa idéia, e ainda tem muito por vir, então, vou descansar enquanto ainda dá tempo de assistir aula amanhã.
Até o próximo post!

- Ao som de: Tori Amos - Rooterspur Bridge -

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Para Um Amigo

Confie nos poucos e bons, pois eles serão aqueles que te carregarão pra frente quando você sentir vontade de regredir ou cair exatamente aonde está, para não levantar, nunca mais. E confie em si mesmo. Por mais que não se possa ver ou tocar agora, ainda resta você mesmo para recomeçar, da areia, e dela construir sua paliçada. Por mais que se tenha esquecido que sempre fora um, por ser dois, ainda és o único que vai conseguir decidir entre nadar ou afundar, morrer na praia, e não ver o que te aguarda depois da ressaca. Apague e redesenhe seus mapas, para outros lugares, com as mesmas companhias, e um objetivo.
E saiba que eu estou há oito digitos de distância, a qualquer hora, pra qualquer coisa.

- Ao som de: Thursday - Paris In Flames -

domingo, 21 de setembro de 2008

Eu Continuo Vivendo O Mesmo Dia

Queria saber amar alguém a ponto de não aguentar. Mesmo que sofresse, mesmo que marcasse, queria aprender a sentir por alguém, qualquer coisa. Entender o porque de tanto marasmo, mesmo sabendo que não tem nada de errado comigo. E sei que é só por hoje, que amanhã eu me encontrarei seguro e certo em meu próprio mundo cinza, abominando a idéia de colocar o corpo à frente da mente, mas por hoje, eu me sinto sozinho, de novo. Nessas horas, queria cuidar de alguém, e que de mim fosse tomado cuidado, diferente das tentativas usuais de habituação. Queria ser entendido como entendo os outros, como estes são entendidos, como eles o são. Talvez assim eu não me sinta tão deslocado, sem um lugar pra chamar de meu. E a busca continua, incessante...

Ao som de: Dance Gavin Dance – Caviar (feat. Chino Moreno)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Os sonhos são feitos da mais clara escuridão

Ontem faltou luz aqui em casa.
Na verdade, faltou na Região Oceânica inteira, umas 23 horas da noite.
Quando eu era criança, faltava direto. Agora, é até meio raro faltar luz, tudo graças ao progresso, essa irrefreável máquina.
Sei que é uma experiência um tanto traumatizante faltar luz quando você é criança.
Até mesmo adulto é um tanto traumatizante. Você simplesmente aperta os dijuntores e a luz não acende. Aperta os botões e as coisas não ligam. Dá medo de ficar o resto da vida sem luz, de voltar a viver como nossos tatataravós, isolados de tudo no meio da cidade, por não terem eletricidade.
Porém, o trauma maior é quando se é criança mesmo. Tanto é que até hoje eu tenho um pé atrás em relação ao escuro. Tudo bem que o meu sótão escuro também contribuiu para esse trauma, mas a falta de luz é até mais desesperadora do que isso.
Tanto é que desde criança eu sempre mantenho uma lanterna carregada (velas são sinistras demais) e em um lugar acessível (em cima de minha bancada) para um caso de eventualidade.
Bem, ontem FOI uma eventualidade, faltou luz!
Foi estranho. Num momento eu tinha diversos planos antes de dormir, como acessar um site, estudar um pouco, ver tv...quando faltou luz, todos se tornaram impraticáveis.
Só me restou ficar olhando as coisas com a minha fiel lanterna.
Olhei a casa inteira.
Engraçado, pela primeira vez, minha própria casa não pareceu ameaçadora no escuro.
Não senti nada dos medos irracionais, inexplicáveis, infantis e completamente compreensíveis que eu tinha quando criança, quando eu não sabia explicar do que tinha medo na minha própria casa, como se tivesse alguém me olhando do escuro, com inveja e ódio de uma criança medrosa.
Pela primeira vez, minha casa foi só uma casa escura e vazia e eu soube que alguma coisa tinha ficado para trás. Não senti pena, nem orgulho. Senti uma indiferença, um vazio como a minha própria casa.
Apaguei a lanterna, eu não ia precisar dela, pois tinha decidido aceitar a escuridão.
E meus olhos foram se acostumando à vista que eles tão bem conheciam.
E aí vem a parte engraçada.
Antes de faltar luz, fora da minha casa estava escuro. Escuro como costuma estar 23 horas da noite.
E agora, no escuro, estava absurdamente claro lá fora. Toda a Região Oceânica, do Cafubá até Itacoatiara apagada, e estava claro, como se o sol estivesse acabando de se pôr, lá fora!
Saí pela porta da frente de casa. Olhei para o céu. Estava sem Lua, nem Estrelas, completamente escuro. E aqui embaixo, tudo tão brilhante! Olhei para dentro de casa. Lá tudo estava negro.
Achando engraçado, decidi dar uma volta, de pijama mesmo.
Fui até o portão da frente de casa. E fiquei ali parado. Um carro passou, iluminando a claridade. Vi o motorista olhar para o meu portão e tomar um susto me ver ali, de pé no meio do escuro, igual um zumbi. Achei engraçadíssimo. Saí pelo portão, e tudo continuava claro. Olhei as ruas desertas, dava pra ver tudo, cada detalhe, até bem longe.
Escutei a voz de crianças rindo ali perto de mim.
Olhei na direção do som. Vinha do meu jardim.
Mas meu jardim estava vazio, e estava claro.
Percebi que as vozes não vinham do jardim, mas da rua. Estranho, porque eu podia jurar que vinha do jardim.
Fui até a rua. Vazia. Nas duas direções. Olhei para o campo de futebol. Nada. Nenhum carro vindo, todas as casas apagadas, ninguém nas ruas. E as crianças rindo. Risadas que não vinham das casas.
Eu estava delirando? Aquilo era um sonho?
E se fosse um sonho? Porque não seria?
E percebi. As risadas. A minha rua escura, mas ainda assim clara. Já tinha sonhado com tudo aquilo. Talvez, toda a noite eu sonhe com isso.
Entendi que é disso que são feito os meus sonhos. E talvez os de todo mundo. De noites claras, onde a noite nunca é escura e as ruas são vazias, cinzas.
Onde uma coisa passa meio desapercebida por você, onde a verdade passa meio desapercebida por você, e quando você se olhar, não tem nada lá.
O riso parou. Voltei para casa. Deitei, brinquei um pouco com a lantera no sofá da sala, iluminando todos os cantos escuros.
Acabei pegando no sono ali mesmo.
Acordei no meu quarto, umas 2 horas depois. A luz tinha voltado e estava acesa.
Fiquei meio desorientado, sem saber se tinha mesmo faltado luz.
Olhei para minha bancada e vi a lanterna ali em cima. Eu podia tê-la posto lá, ou ela podia nunca ter saído de lá.
Decidi não remoer a dúvida e voltei a dormir. Se fosse um sonho ou não, agora não fazia diferença.
A luz já tinha voltado e agora a rua estaria escura de qualquer modo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A Maioria de Nós É Normal

Não confio quem sou - ou qualquer coisa que o valha - ao que aparento ser aos outros. Não que eu não o seja; só não o sou por inteiro. Tampouco credito-o ao que não aparento, já que vivo limpo, aberto, cristalino, e a cor que se vê é exata, apesar de poder-se vê-la na frequência que se desejar. Acredito ser o que não se pode mostrar, ou ser percebido, ou mesmo explicado ou entendido, até mesmo por mim. Chamam-no de "alma," mas vejo-me constantemente nomeando-o como "o outro". É aquele que analiza pensativo, sente saudades inconformado, diferente de mim - ou seja lá quem for. Aquele que se sente sozinho o tempo todo; e sabe que assim é a genética, ou o destino. Sabe que assim será, por mais que tenha aprendido a não se incomodar, e até encontrar conforto nessa maneira. Mas se fosse simples, não seria este. Seria menos, ou tanto quanto, mas pouco interessante. Seria fácil, sim, mas ser difícil é uma virtude que com o tempo se aprende a cultivar. Porém, aí reside o embate: vencer o tempo é tornar-se tão difícil quanto ele, tão sozinho quanto só ele, o tempo inteiro. Pois mesmo após o fim de todas as coisas, ainda existirá o tempo, implacavél, imutável, superior; mas não restam-me dúvidas de que mesmo ele gostaria de perder-se num amor de verão e deixar de ser imortal. E a mais curiosa faceta de todas as milhões delas que habitam essa história sem fluxo determinado, é que mesmo sendo um e outro, eu me sinto sozinho. Nas madrugadas em que planos de ir embora são feitos e abandonados, escarneados por seu criador em seguida, enquanto se espera chover. Quando sei que não existe nada de errado em mim, e que isso tudo pode ser rastreado há um ponto do tempo que não consigo apontar ou lembrar. Eu me sinto sozinho, o tempo todo.

- Ao som de: Saosin - Seven Years (acústica) -