segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Vazio

Amanhã é feriado, mas não significa nada pra mim. Eu estaria menos entediado se amanhã tivesse que estar no ponto de ônibus às seis e meia pra assistir uma aula que eu julgo ser descartável pra minha formação profissional, tendo que estagiar à tarde. Ninguém pra conversar, contar um caso divertido, surtar, sair, esquecer o calor do verão em cerveja ou à beira do mar. Todos fazem algo de útil no momento: aproveitam o feriado aqueles que não terão aula, como eu, até amanhã ou terça, ou se concentram pra semana de trabalho que começa. Não tenho nem em que pensar. Minha cabeça tem estado tão vazia ultimamente, sem preocupações, objetivos, distrações; só vazio, um bloqueio criativo, barreiras emocionais. Divisórias e vazio. Até o Cisne, o companheiro de teatros apagados, parece estar em alcance. Parece que ele também tirou férias e foi fazer algo de memorável do seu tempo, coisa que devia eu fazer. Nem com as partes de mim consigo conversar. E o engraçado é pensar que eu estou acostumado a ficar sozinho. Na verdade, eu adoro, porque eu nunca realmente estou sozinho; existe sempre a outra metade pra me dar combustível pra sonhar, e eu sonho, explodo fogos de artifício em um terreno só meu, o espetáculo mais confortável que conheço. Talvez se eu dormir, amanhã o sol me conforte.

- Ao som de: Saosin - Seven Years -

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Cortei o rabo de uma lagartixa

Tinha uma lagartixa perto da minha cama.
Por piedade aos animais e por higiene, desejando que o bicho imundo não subisse na minha cama no meio da noite, peguei um chinelo e tentei fazer com que ela subisse em cima dele, para que eu pudesse soltá-la no jardim. A operação era complicada, porque o bicho burro, como todos os bichos burros, era burro.
Bem, acabei esmagando a lagartixa e decepando o rabo no processo, mas isso não é tão importante assim.
A parte esmagada deu uns espamos e parou de se mexer, morta.
Já o rabo...
Aí, faz uns 15 minutos que ele tá se mexendo sozinho. Sério. Não entendi o que tá rolando.
Caralho, parece um verme, tipo um nematelminto ou um anelídeo, só que sem anéis.
É nojento cara, parece tipo "O Ataque dos Vermes Malditos" dos anos 80. Só que em proporções vermífocas, definitivamente.
Ele vai pra um lado se contorcendo. Depois vai pro outro. Pára. E volta a dar uns espasmos violentos.
Eu acho que devem ser impulsos elétricos residuais do Sistema Nervoso Central da lagartixa, mas, caralho, o rabo está se debatendo a uns 15 minutos.
Alguém tem uma boa explicação para isso?

Todos estão dando duro e eu passei a tarde na piscina...

....da casa de uma amigo pegando sol
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Estou queimado de sol e acho isso ótimo. Fazia muito tempo que eu não pegava um sol bom, pra queimar um pouco. Eu sei que eu sou branco, pálido, mas isso não muda o fato que eu estava ainda mais branco e pálido.
Sem brincadeira, faz mais de uma ano que eu não vou numa praia.
Mas hoje, por coincidência fui de bermuda pra faculdade, e vendo o sol que estava, não resisti e me convidei para ir no play do prédio de um amigo pegar sol e ficar na piscina.
Chamei gente que não podia ir, estava ocupada, estudando.
Aí eu meio que me senti, sei lá...vagabundo (mas ainda assim adorei ficar na piscina, pegando sol sem fazer nada).

Tudo bem, eu sei que Direito no começo não é um dos cursos mais pesados no princípio. Mas eu realmente começo a achar que talvez eu esteja indo devagar *demais*.
Tem um trabalho em grupo que a professora passou em agosto para ser entregue semana que vem, dia 30. Só arranjei um grupo hoje.
Tem uma palestra que eu tenho que fazer um resumo. Não lembro de ter ido, e se eu fui, fiquei fazendo desenhos aleatórios (um astronauta vendo o Armagedon do espaço, o papa Bento XVI malvado, Steve Irwin [o caçador de crocodilos] surfando numa raia, Sócrates dando a bunda pra Platão, Freud roqueiro, Heath Ledger morrendo ou conversando com o Batman, cenas de Lost, entre outros) e não lembro de nada.

Cacete, tem gente que desde o 1º período já faz estágio não remunerado ou trabalha em coisas aleatórias na minha faculdade. Tem gente no 2º que já tá fazendo estágio remunerado.
Eu tô pensando se entro ou não em um estágio não-remunerado no período que vem.
Porra, eu não faço nada para ganhar meu dinheiro próprio, não mexo uma palha, só consigo torrar.
Tudo bem, ainda que eu não trabalhasse, mas fizesse algo de útil pras pessoas eu ia me sentir melhor.
Lá na minha sala tem gente fantástica, que faz uns projetos sociais que eu me sinto muito merda quando os vejo fazendo. Esse pessoal viaja pro Nordeste pra ajudar populações carentes, arrecadam fundos pra comprar presentes de dia das crianças pra crianças de uma creche em uma favela e vão lá entregar...
E eu não fiz nada, nem contribui com dinheiro para esse pessoal comprar as coisas.
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SOBRE A CULPA E A VIDA


Me sentindo muito merda, eis que passeio pela rua e vejo um cartaz de uma menininha com Leucemia, pedindo para as pessoas comparecerem em um posto de coleta de sangue para ver se você é compatível com alguém com Câncer.
Pensei: "Caralho, é um sinal de Deus para que eu faça algo útil para alguém!"
O posto de saúde era na UNIVERSO, no Centro, em um lugar perigoso e fudido.
Esse horário de verão engana. Peguei um ônibus com minha namorada e quando saltei lá já estava escuro. Só aí me liguei que era 8 horas da noite, uma hora bem perigosa para se estar naquele lugar.
Mas, minha culpa e meu altruísmo para com a humanidade fudida me fizeram seguir adiante. Peguei a rua da prefeitura de Niterói.
Aí passou um carro de polícia em alta velocidade.
Dois.
Pensei: "Caralho, vou morrer e a garotinha vai morrer de câncer por culpa disso."
Andando mais um pouco vi uma aglomeração. Muitas pessoas. E carros de polícia e bombeiros.
Perguntei para um dos observadores: "O que aconteceu?"
E ele disse: "Um assalto", apontando para um estacionamento na frente.
Pensei: "Será que os assaltantes estão escondidos no estacionamento?"
Fui até a porta e olhei. Não tinham assaltantes. Tinha um cara morto, a cabeça estourada no chão, saindo sangue. Recuei assustado. Odeio ver gente morta, ainda mais gente TÃO morta assim.
(Se bem que essa semana, fui numa exposição sobre o corpo humano cheio de cadáveres. Além disso, terça-feira estava passando na Presidente Baker quando vi um cara morto, coberto por um saco na calçada. Ele tinha pulado do 12º andar, mas só tinha quebrado as duas pernas. E morrido, óbvio. Mas digo que ele só quebrou as duas pernas porque uma vez, soube de uma mulher que se jogou de um 9º andar e caiu sentada. A cintura dela subiu e foi parar na altura da cabeça. Nojento, triste e doentio).
(Hoje eu soube que o cara que morreu com o tiro era o dono do GPI, mas na hora só fiquei chocado)
Aí eu pensei: "Caralho. É isso, eu vou morrer mesmo e não vou ter feito nada de bom. Só vou ter sugado o trabalho dos outros. Nunca vou ajudar uma criancinha, só por desencarno de consciência de fazer o bem uma vez na vida."
Fui andando até a UNIVERSO, com o cú na mão, com medo de tomar um tiro na cabeça, visto que estava sem dinheiro.
Lá, tiraram um pouco de sangue meu para cruzar os dandos e me deram um lanche.
Andei pelo Centro escuro 21:30h da noite, até o Terminal.

Pronto. Missão cumprida, fiz algo perigoso para ajudar alguém, a culpa se foi. Ou quase.
Se for um doador potencial, vão enfiar uma agulha imensa na minha bunda (*ai*) para tirar um pouco da minha medula. Vai doer. E vai ser desonroso, sobre certo aspecto.
Mas se for para me livrar da culpa de ser vagabundo e não fazer nada, vale à pena, né?
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E de quebra, ainda salvo alguém!
Ô beleza! Herói nacional, já pensou?
Busto do Smokey em praça pública, cheio de merda de pombo?
Foda, hein!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Yes, passei na prova prática!

Yes, passei na prova prática de direção do DETRAN!
É isso aí, já posso dirigir!
Posso ir em Icaraí e voltar para casa no mesmo dia sem cansar!
Nunca mais vou ter que depender de ônibus, é só esperar mais 5 dias úteis e pegar minha carteira!
A prova foi tranqüila, passei de primeira.
Esculachei os avaliadores, falei que a avaliadora velha escrota só ia andar no meu carro se pusesse o cinto, mandei ela tomar no cú quando ela mandou que eu passasse a marcha antes de tirar o freio de mão e discuti com um negão filho da puta quando ele me tirou ponto por não ter dado a seta para sair com o carro!
Mas é isso aí pessoal, passei!
Já posso dirigir!
Yes!
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Brinks, fui reprovado, agora prova denovo só no fim de novembro....

sábado, 18 de outubro de 2008

À Vida!

Eu sei lá. De verdade. Pela primeira vez na história desse blog - curta história - eu vou postar bêbado. Não corrigirei esse post, não editarei. O que vier, veio.
Não que eu não esteja constantemente bêbado. Infelizmente, eu tenho um fígado ridículo de fraco, e ficar bêbado é realidade. Mas hoje, eu estou em glória. Encontrei pessoas que não via há muito, muito tempo, e brindei a todas elas. Gritei, dancei, valsei ao som da minha própria ebriedade, e aqui estou eu, sozinho, em meu quarto, em estado suspenso de felicidade. Como se todo dia fosse sexta, como se a vida fosse mais fácil.
Porque hoje, eu me desliguei do mundo. Esqueci dos problemas, mal fiz questão de lembrar o que me aflige, o que povoa minha mente. Droga, nem fiz questão de lembrar quem sou, mas talvez por isso esteja feliz. Só sei que por hoje, eu estou feliz, porque o mundo sou eu e eu, numa tempestade de luzes e emoções, bons sentimentos. Pensando bem, ainda bem que meu fígado é uma moça. Se ele fosse forte, acho que a vida seria menos colorida nesses momentos, que eu nunca iria querer perder.
E ah, como é bom ter esperança. Acho que o ka começou a virar a meu favor. Passei o último mês por trás das pesadas cortinas do mau agouro, mas agora, tudo está em seu lugar. Não vejo cisnes, não vejo nuvens, não vejo qualquer forra. Só vejo um novo começo. Meu fim de semana começou ontem, e dois dias adiante, experimento sentimentos que nem me lembrava mais. Gostaria de viver mais assim. Cercado de boas pessoas, bons amigos, boa bebida, bons ambientes; boas energias. E aonde vou achar espaço aqui pra falar de uma pessoa em singular? Meu último resquício de sobriedade me diz pra deixar isso pra lá. Não é hora de falar sobre isso, com toda a minha certeza, com tudo que aprendi com o tempo, oh tempos. Mas dane-se. Hoje, eu sou mais eu que antes. Não sou penas ou medos, vergonhas e marcas do que já foi. Sou apenas eu e eu. Uma pessoa em singular. Não sei se devo agradecer, ou que atitude tomar quanto a isso, mas fico feliz. Novamente, vejo um começo, e me falta um pra talvez tentar ser mais eu, mais tempo. De qualquer forma, deixe estar, Cisne. Deixe-me ser, só, por enquanto.
Penso aqui: acho que até escrevo bem pra quem está obviamente ébrio. Esse texto foi todo escrito de uma vez, sem pausas, sem reflexões. Poucas vezes houve manifesto tão sincero nesse blog; Diabos, na história da humanidade. Esse é um diálogo de duas partes separadas de um homem entre si, harmoniosamente compartilhando experiências e significados pela primeira vez. Como velhos amigos, e não como os parasitas que são um ao outro. Como borboletas voando em círculos ao redor uma da outra. Parte cisne, parte cético. Eu devia escrever mais sobre isso.
Finalmente, tive que parar pra pensar sobre o que escrever. Acho que isso é um comando para que eu pare definitivamente. Desabafos nunca são sinceros quando calculados, verdades nunca são coesas quando pesadas contra o gradiente triste e cinza da realidade. Encerro aqui, embora tenha um mundo - minto, um universo - pedindo pra ser descrito. Implorando para ganhar forma, métrica, rima. Mas por hoje é suficiente. A noite nunca termina, e se somos quem podemos ser, serei este pra sempre.

- Ao som de: Horse The Band - Manateen -

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ninguém Cala

Hoje, eu deixo de lado a formalidade, a estética, a métrica, a rima. Falarei de coisas mais belas que isso. Não farei reflexões sobre o sentido da vida, sobre o homem e sua psique, sobre a natureza e o mundo, pois hoje, há coisas mais importantes que devem ser ditas. Por hoje, falarei de algo que é tão tocante quanto todos esses assuntos e versos; falarei de amor. Amor incondicional. E se engana quem pensa que é por uma pessoa, pois hoje, eu declaro por aqui o meu amor pelo Botafogo de Futebol e Regatas. E como o amor é um sentimento completo, este dispensa frases longas e belas. É um sentimento religioso por definição. Portanto, sem mais delongas:

Glorioso, eu te amo!

- Ao som de: Finch - Project Mayhem -

sábado, 4 de outubro de 2008

Tomara que o Jorge ganhe de primeira...

...porque, puta que o pariu, não aguento mais a música dele!



Caralho, toda a vez que vejo aquele carro com o refrãozinho do "é mesmo um caso de amor", tenho vontade de dar um tiro em cada um dos assessores de campanha dele. Defintivamente, é um caso de "Assessores da Puta que o Pariu".

Imagino como deve ter sido a reunião para criar a campanha:
Assessor 1: "Bom, já que o chefe tá viajando, vamos fazer a música nós mesmos. Bota uma linha melódica aí."
Assessor 2:"Linha melódica como?"
Assessor 1: "Porra, sei lá, o Chefe mandou botar um assobio."
Assessor 2: "Botei, tá bom?"
Assessor 1: "Não, tá uma merda. Põe a mulher pra dizer alguma coisa."
Assessor 2: "Botei, agora ela fala alguma parada de caso de amor. Tá bom agora?"
Assessor 1: "Não, continua uma merda, mas, foda-se, vai assim mesmo."

E assim, saiu o primeiro carro, aquele só com o assobio. Tenho certeza que ao menos UMA pessoa deve ter se matado ou matado alguém ouvindo aquele carro. Pelo menos alguém deve ter matado um bicho, sei lá. Se eu não fosse tão fresco, é certo que eu tinha matado um cachorro.
Porra, o assobio era mais satânico do que disco de heavy metal tocado de trás pra frente.
Aquela música enlouquecia qualquer um...

Bem, um mês depois...

Chefe: "CARALHO! Seus merdas! Que merda é aquela na rua?! É pra ajudar o cara a GANHAR a eleição caralho! Quem foi o viado que mandou aquela merda de carro circular?!"
Assessor 2: "Foi o Assessor 1, chefe."
Chefe: "Caralho, tu é retardado ou come merda? Como é que tu faz uma merda dessas?"
Assessor 1: "Mas Chefe, o que eu fiz de errado?"
Chefe: "O que tu fez de errado? Tu só põe um assobio num carro de campanha e pergunta o que fez de errado?! Tem que ter uma música, porra! Escuta, vou viajar, quando voltar quero essa porra resolvida!"
Assessor 1: "Ah, entendi Chefe! Fica tranquilo, vou pôr uma música..."

E assim, fez-se um segundo carro que rodou só por uma semana...que só tinha música. Era um pianinho (ou uma harpa, não consegui ter certeza). Sem assobio. E com o refrãzinho cantado. Uma merda também.

Uma semana depois...

Chefe: "Puta que o pariu, cadê o assobio? O carro só tem um pianinho escroto! Parece um teclado de brinquedo tocado por uma criança sem braços! Você não consegue fazer nada direito?"
Assessor 1: "Desculpa, Chefe! (para Assessor 2) Ô caralho! Junta o assobio com a música!"
Assessor 2: "Mas, vai ficar uma merda se juntar o assobio com o pianinho!"
Assessor 1: "Então muda! O quê os outros candidatos tão pondo como música?"
Assessor 2: "Pô, todo mundo bota a merda de um samba ou de um funk!"
Assessor 1: "Então, põe um pagode aí!"
Chefe: "Ah, agora eu tô sentindo que essa merda vai ficar boa!"

E assim, saiu o terceiro carro, que estava na rua até pouco tempo atrás. Era o assobio com um sambinha. Inofensivo, mas paradoxalmente traumático. Era melhor correr quando você visse o carro.
Até que, semana passada:

Jorge Roberto Silveira: "Puta que o pariu! Vocês são uns merdas! Caralho! Agora que eu vi que vocês fizeram merda a campanha inteira! Porra! Vocês tão merecendo que eu fure todos vocês e tampe os buracos com O.B.!"
Chefe: "Me desculpe seu Jorge, mas que erro nós cometemos?"
Jorge Roberto Silveira: "Porra! Como é que vocês fazem um carro de som que nem diz o meu nome?! Como esse povo burro vai saber que é pra votar em mim?"
Assessores + Chefe: "Ih, é!"

E assim, saiu o carro atual nas ruas, com a velha musiquinha do Jorge, que agora causa raiva e desespero.
Amanhã eu vou votar no Jorge. Quero muito que ele ganhe logo no primeiro turno. Se vocês puderem, votem nele também.
Quando soube que hoje seria o último dia daquele carro, comemorei.
Seria demais ouvir mais 5 minutos daquilo.
No final de contas, não foi um caso de amor =[

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Grande Decadência, Parte II

Dando sequência ao diálogo, que já dura quatro dias, observo um fato crucial: a expansão já aconteceu, e vem se intensificando com o passar das horas. O ser humano primitivo não sabia fazer uso do petróleo, ou do fogo, ou de qualquer coisa que a tecnologia o tenha abençoado, e é essa a ferramenta principal para o homem destruir a cadeia evolutiva. Veja bem, voltando à nossa alegórica bactéria, esta evolui por modificar a si mesma: todos os mecanismos evolutivos destas são modificações do seu metabolismo ou de sua estrutura física, sem que haja um elemento exterior a ela. O leão fica mais forte, mais rápido, mas não aprende a modificar o meio em que este vive. E essa a grande diferença, aonde a balança se desequilibra: o advento da tecnologia permitiu ao homem expandir o espaço físico sobre o qual esse tem influência, e do qual este pode tirar recursos para sua sobrevida, de uma forma tão assustadoramente grande que sem esta, desde a descoberta da manipulação do fogo, o ser humano provavelmente pereceria à força suprema de outros animais. A tecnologia equilibra as forças, visto que o homem não pode correr mais que um jaguar, mas pode construir um carro, e desequilibra-a novamente, mas em favor do homem, a partir do momento que o homem consegue refinar o carro, fazendo que este seja mais rápido que o jaguar.

A tecnologia é fruto da capacidade do homem de transformar o ambiente a seu favor. Ou talvez as duas coisas estejam tão entrelaçadas que já não se consegue definir o que é um e o que é o outro. Mas o que importa pra essa discussão é que, se o homem consegue sobreviver modificando o ambiente, e continuando menos adaptado do que outros animais (levando-se em conta apenas o animal humano), este destrói a evolução, o conceito de natureza, e o próprio conceito de que o homem é um animal. Pois se existe a delimitação entre o homem animal - o corpo físico - e o homem tecnológico, como essa capacidade de dominar o meio, então não podemos dizer que o ser humano seja completamente inerente ao grupo dos seres "naturais". Se estes estão subordinados às forças maiores da natureza, ao próprio mundo, e nós o modelamos como nos melhor convir, então podemos dizer que dominamos a força que rege a existência destes - a renovação e a limitação, a vida e a morte,- num sentindo em que não somos afetados por esta da mesma forma que eles.

Quebramos a barreira entre o ser pertencente à natureza e adotamos uma categoria própria. Controlamos o ambiente que nos cerca, nos expandimos constantemente e a velocidades incríveis, e a única barreira que nos poderia ser imposta pela natureza - a limitação, o fim dos recursos - é diariamente afastada de nossa linha de visão, visto que a cada dia o homem descobre um novo modo de utilizar o ambiente, e expande sua capacidade de sobrevida. Em alguns anos, usaremos a fusão nuclear, quando já nos utilizamos do carvão, e quando esta se exaurir, outra aparecerá, como o foi com o petróleo, a energia solar, e todas as outras formas de energia. Toda vez que a natureza tenta nos enquadrar de volta no quadro evolutivo, nos distanciamos dela.

O mundo agora caminha em direção oposta ao caminho natural que nos é imposto. Pois quanto mais descobrimos maneiras de renovar os recursos que utilizamos - uma tendência que vem crescendo nesse século em que vivemos - mais nos tornamos não só resistentes ao embate da natureza, mas também independentes dela. A cada vez que descobrirmos uma forma autônoma de geração de recursos, nos tornaremos menos animais, e mais seres tecnológicos.

Nos distanciamos da natureza, da forma de existência em que fomos criados, e nos tornamos uma forma separada de vida, não apenas vivendo como as forças que regem o meio em que vivemos ditam, mas subvertendo-as. Não somos mais animais, não puramente; somos filhos de nossa própria criatura.

- Ao som de: These Arms Are Snakes - Diggers Of Ditches Everywhere -