domingo, 28 de junho de 2009

Nenhuma Surpresa

Eu me pego constantemente sonhando que não acordo. O melhor dos meus devaneios noturnos seria o que durasse pra sempre. Porque existem certas coisas que não se pode enfrentar, e você mesmo é uma delas. Não importa o quanto você lute, você estará sempre machucando à você mesmo. Certas coisas são melhores aceitas do que inconformadas. Irônico ser uma delas o quanto conheço de mim mesmo. É cíclico de uma maneira que não sei explicar, mas posso prometer, como a maioria das coisas que penso. Eu me pego constantemente desejando imergir num sono que nunca mais termine. Um sonho bom. Mas sempre tem um amanhã. E o amanhã não me guardou nenhuma surpresa, nenhuma festa de aniversário. O amanhã me remete ao "ontem", porque a vida é cíclica. O amanhã me remete à verdade inexorável de que eu sei que tudo é cíclico. Certas coisas são melhores deixadas pra morrer no limbo do esquecimento, idéias que naufragam e atingem o fundo do oceano e lá moram até o dia do Juízo em que todos as capitâneas enterradas na areia vão se reconstruir sob bandeiras piratas e navegarão à poluir seus oceanos. Porque são infortúnios seus, e só seus, porque você não pode compartilhar isso com ninguém. Porque ninguém precisa saber a farsa que é. Ninguém precisa saber a farsa que você é. A minha funciona bem o suficiente quando eu esqueço dela, e a sua? Mas eu sou perceptivo demais pra sustentar isso por tanto tempo. A máscara cai, desce a Razão dos céus em chamas. Ela é minha concubina descontente. Meu filho pródigo. Meu cão raivoso. Ela não me deixa mentir. Às vezes, eu vejo o quão sem sentido é a vida, mas só quando eu consigo sentir alguma coisa; em tudo o mais, é só a máscara. Eu me pego constantemente desejando nunca mais acordar. Talvez, quem sabe, amanhã...

- Ao som de: Gorillaz - Tomorrow Comes Today -

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Mais Badalado

Eu amo o acaso, mas às vezes, parece que eu me amo mais. Eu amo a paz, eu amo a guerra. Eu amo os oceanos, eu amo as costas. Mas não tenho amor por ninguém. Talvez isso seja lealdade. Mas ela não sabe, então pouca diferença faz. Eu engano, eu caio, corro até meus sangue virar ácido de bateria. Eu a amo com todo o meu coração. Cada veia, cada vaso, cada bala alojada no peito. Com todas as flores que eu já arranquei do solo. Ela me prometeu granditude, status, uma colocação desejável, acima de todos os outros, meu rosto em louros cobrindo as capas de revistas. Papel como eu nunca havia compreendido. Seus olhos brilham em verde com o logo do meu sonho, o próposito dessa cena, e uma obsessão obscena pelo brilho. Ela seria minha Rainha. Eu seria seu Rei. Ela me daria o nome; e nós dois reinaríamos, pra sempre. E eu nunca mais sentiria dor. E nunca mais me sentiria sem prazer, sozinho; nunca mais. E se a chuva cessasse, e tudo que cerca secasse, ela choraria, pra que dos seus olhos houvesse água pra mim. Ela me ensinaria a voar, até acolchoaria minha queda, se minhas engrenagens um dia travassem, e eu mergulhasse Céu abaixo. Mas ela me manteria no alto... E se um dia eu morresse, ela comissionaria monumentos em minha homenagem, e em sua lástima. Ou talvez ela só se aposentasse: um fósforo aceso no Céu acende as chamas do Inferno. E eu então serei.
E assim começou nosso Reino. A trindade: eu e ela. Nenhum meteorologista poderia prever o que nós passamos - bom ou mal. Nenhum sombreiro evitaria o que o tempo nos reservou. O Céu caia, o Céu chovia, o Céu era o Inferno. E reze pra Deus para que a enchente cesse. "Você vai precisar de um submarino até que ele responda". Você acha que tudo é árido quando é positividade. E este foi mais um Julho em meu verão interminável. E os límpidos entreolhavam, por entre suas histórias de pais desfalecidos e mães desesperadas, mas não o suficiente para mantê-los de nós. Pressionados a rir de uma vida não veloz, e lutando contra o resto da classe. "Você pode sentir?" - foi o que fui perguntado. "Você a ama?" - eu disse "eu não sei". As Ruas têm meu coração, O Jogo tem minha alma, e uma vez perdida de sol nascente não marcaria sua alma, jamais. Eis que o remetente era uma mãe chorosa de um filho desonroso: quem é a mãe para uma filha de quem eu sou pai à distância? Minha nova dama me deu uma Mercedes e um colar com uma chave sólida de ouro, como a partida de um carro, o abridor de um portão, ou dois quilos do puro. Você me deu um sonho, mas e recentemente? E então eu ri, Cisne. Justo na cara dela. Mas existem mais peixes no oceano, e eu estou na minha missão para ser.
Que Deus tenha simpatia, e perdoe meus dias de Hiena.
Essas são crônicas, emergidas do túmulo para fazê-lo perder seu ano escolar, e perseguir um Graal Profano como um tolo, partilhar idéias com os vagantes das piscinas, falando rápido como um meliante.
Não existe um Céu acima de você, nem um Inferno abaixo, e nenhum dos dois o aceitaria.
Então segure suas lágrimas quando estiver ausente, e mantenha sua fé, enquanto procuramos o Ser.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Remover-se

Você provavelmente nem sabe que esse espaço existe; mas eu te agradeço por não saber. O fato de você desconhecê-lo permite exatamente que ele exista.
Provavelmente, você nem sabe que eu existo. Você tem menção a um terceiro, mas não o verdadeiro - ou os verdadeiros; ou tudo que os envolve.
Você não sabe, provavelmente nunca lhe ocorreu a possibilidade, que tudo que está escrito nessas páginas virtuais ocorra tão perto de você. Quem sabe você nem tenha a capacidade de entender.
Mas já lhe deve ter ocorrido que eu talvez seja diferente. Em tudo. Você já me fez essa pergunta, mas estava distraída pra perceber que a pergunta havia sido, de fato, essa.
Você já imaginou que eu talvez sinta diferente. E isso inclui tudo. Você só não sabe que "tudo" te inclui de forma específica.
E acho que você já percebeu o suspense no ar, suspenso entre olhares. E já percebeu que não foi a única a notar essa malha fina que paira em nosso entorno.
Então se permita. E permita outro. Gire a roda, sopre os ventos, mude os ares. Dê o primeiro passo. E ganharemos o mundo, e mais. Ganharemos o que nem a ele pertence: ganharemos tempo.

- Ao som de: Radiohead - All I Need -

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A vida imita a arte...

Sei que muito provavelmente, esse post vai me mandar para o inferno.
Mas, já me mantive quieto sobre o assunto por tempo demais, e não resisti à notícia de hoje...



"Cresce mistério sobre tragédia: destroços não são do avião

JORNAL O GLOBO - 05/06/2009

Cresce mistério sobre tragédia: destroços não são do aviãoA Aeronáutica afirmou ontem à tarde que os destroços recolhidos no Oceano Atlântico não são do Airbus 330, voo 447, da Air France, apesar de ter dito o contrário durante todo o dia.
A peça mais importante enviada para análise, um pallet, espécie de engradado para transporte de carga, é de madeira, material não usado pelo avião. A Rádio Europe 1, em seu site, afirmou que os primeiros destroços localizados pela FAB, na terça-feira, também não foram identificados por especialistas franceses como partes do Airbus.
Foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim, quem anunciou naquele dia que o material, não fotografado e nem recolhido, seria do avião. No Rio, oceanográficos dizem que é comum encontrar lixo na área vasculha pelas equipes.
O mistério do sumiço da aeronave cresceu. Um piloto espanhol que voava no mesmo horário e em rota próxima disse ter visto um clarão, em trajetória descendente, onde o avião teria sumido."



Engraçado, cada vez mais esse acidente me lembra uma série que eu acompanho...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

(sem título)

Eu não sei como vou ultrapassar tudo isso. Não sei o custo dessa travessia. E por isso eu me desfaço. Eu não sei o que pretendo cruzar, nem como, nem quem vou encontrar durante a caminhada - nem quem me tornei quando me esquivei dela. Eu me desfiz em pedaços. De carregar uma cruz a não ser capaz de admirar uma. São irônicos os extremos, mas é uma pena que a ironia tenha se perdido. Não se deixe enganar: quando olhar pra mim, não deixe que minha segmentação te ludibrie. Quando olhar pra mim, talvez estejas olhando para a pessoa mais solitária que já cruzou seu caminho.