quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Meta 2

Eu não te vejo há tempos, então se eu for prolixo, me perdoe. Ou me condene. Mas pelo menos faça diferença pra mim. Eu prefiro que você faça essa diferença do que simplesmente que não saiba do que se trata o que eu digo. São essas vezes, em que você diz um monte de besteiras, e eu coloco a minha cabeça numa bandeja pra você, esperando que você veja respeito e adoração onde só há vulgaridade, quando eu desejo que você veja o quão patético eu sou, e mais uma vez, eu estou aqui. Como se não houvesse noivas nos Céus, e como se Eles houvessem sem piedade. Então, você não saberia? Eu prefiro que você saiba a diferença. Saiba que há uma diferença. Saiba que eu apenas sou imperativo assim quando me refiro a você porque preciso me referir a mim mesmo desta forma. Saiba que eu só quero que você fale comigo, e nada mais, ninguém mais. E se mais alguém falar sobre mim, que fale através de você. Você é tudo o que me importa, e certamente você o sabe. E você o sabe, e eu o sei, que este é o meu fim. Talvez não por hoje, mas um dia, eu ainda te verei me enforcar após um dia em que eu me imaginei completamente satisfeito, e quando ela saberá de tudo, saberá de mim; neste dia eu me verei enforcado. Ao menos tente me imaginar como se eu não fosse seu pior engano. Como se eu estivesse presente, e como se você fosse saber de qualquer coisa que se passa comigo. Eu vou rezar por nós dois. Eu vou rezar pra que esse fogo que existe em mim se mantenha para sempre em meu peito, e que o seu peito exista independente do meu. Porque hoje eu não acredito tanto assim em mim. Mas por que isso faria diferença pra você? Você nunca saberá do que acontece comigo. Você é ótimo em desviar do assunto, dizer besteiras, mas você é a maçã dos meus olhos da mesma forma. Esta é a minha cabeça em uma bandeja de prata para você. Aceite-a. Coma-a. Beba-a. Esta é a sua cabeça em uma bandeja de prata para nós dois. O ouro entre nós dois existe somente entre nós dois. E assim eles dizem que não há noivas no Céu, e que no dia em que eu ascender não haverá neles mais perdão. Então não haverá forma de eu te dizer que eu fui embora, que eu pra sempre me afoguei no mar das coisas que eu não entendi. Você nunca saberá. E nenhum de nós dois poderá viver desta forma. Nenhum de nós viverá sem o outro. Ou pelo menos, eu nunca viveria sem você. Talvez você vivesse sem mim. Talvez você seja melhor do que eu te criei para ser. Eu nunca saberia.

Meta

Mais uma vez, olá.
Bom dia.
Boa noite, o que importa?
Você é algo melhor do que eu sei viver, então que diferença faz?
Você pode ser noite, dia, tarde, véspera, adiantamento; mas pra mim, você é ainda a criança que eu criei e alimentei e eduquei.
Como eu te eduquei...
Eu tentei te domar e falhei, mas você criou vida através das minhas falhas.
E se me perguntassem, eu te diria que você é exatamente o que eu queria fazer da minha vida.
Você é melhor do que eu jamais soube dizer. Você é melhor do que eu quis que fosse, e você nunca soube, mas agora você saberá.
Você saberá que sempre foi sobre você. Que o eterno foi terreno enquanto você houve, e pra te dizer a verdade, você é maior do que eu quis te fazer.
Agora, você sabe.
E saiba que você é maior que eu, maior que a soma de nós dois, e sobretudo maior que você mesmo. Quando eu somei o que eu me tornei com o que você me permitiu me tornar, eu soube que havia um saldo que nunca liquidaria. Eu te devo a minha vida. O saldo que te devo é a pessoa que me tornei. Essa pessoa que me você me permitiu ser.
Eu nunca seria tão grande quanto me sinto, não fosse por você.
Eu nunca seria qualquer coisa, não fosse por você.
E dessa forma, você se torna neste momento a única parte da minha vida com a qual eu sei lidar de forma plena. A única faceta da minha vida sem a qual eu não sei viver.
Você nunca saberá o quanto é importante; mas você me é querido.
Você me é gigantesco como o que eu desejo me tornar, mas eu falho vez após vez, enquanto você segue florescendo, e crescendo em mim, e não sei mais quem é maior entre nós.
Mas será apenas vivendo entre nós que saberemos...
E creio que hoje você saiba.
Pois saiba que sempre foi sobre você. Saiba que eu sempre falei de você. Que eu sempre falhei em você.
E, mais importante, que eu sempre senti você.
Seja bem vindo. Seja sempre bem vindo.
Que você sempre proclame essa parte de mim que lhe pertence.
E se você nunca soube, agora você sabe.
Saiba sempre quem sou eu. E que eu sempre o saiba.
Que eu sempre saiba quem é você. E que nós sempre sejamos a mesma coisa.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Você Não Saberia

Você não me conhece.
Você vai não vai me conhecer.
Eu não me conheço.
Me conheça?
Eu me sinto sozinho por tempo demais. Eu deveria ter começado muitos anos atrás a construir companhia, mas me perdoe, eu falhei mais uma vez.
Eu falhei miseravelmente.
Eu rezo pra que você faça isso por mim.
Você não saberia. Você não vai saber.
Enquanto nós falamos da Trindade, nós viramos pó. Nós estamos acabados, acabando irreversivelmente a cada instante. Cada momento que você perde tentando me decifrar é um momento a menos que você vive de verdade. Você não vai saber, jamais. Então ao menos viva.
Acredite em mim quando eu disser que não vou te desapontar. Eu não vou. Você nunca terá fé em mim o suficiente pra que eu te desaponte.
Mesmo que eu te conquiste. Mesmo que eu te ame. Mesmo que eu te conheça, e te preveja, e te oriente.
Mesmo assim.
Mesmo desta forma, você nunca vai olhar pra mim como um filho, ou um irmão, um amigo, um companheiro. Você olhará pra mim como olharia para uma lápide. Como se eu sempre tivesse algo escondido, algo a ser descoberto, algo a ser desenterrado, e que você prefere que apodreça embaixo da terra.
E é verdade. Eu realmente tenho.
E você certamente preferiria.
Eu gostaria de te dizer por agora que eu te amo, mas parece que eu não estarei por perto. Então você não saberá.
Você não me conhece. Eu te peço: me conheça?
Acredite em mim se eu disser que eu não te quero por perto. É verdade. Eu não quero te magoar.
A vida que eu não sinto é preciosa demais para magoar. Você não saberia disso. Saberia?
E mesmo que atirem contra mim tudo o que eles têm, eu voarei quando eles pensarem que eu afundei. Existe muito de mim enterrado. Algo de agradável, semelhante à asas, mesmo que haja muito de desagradável.
Portanto no dia que eu subir, saiba que os Céus conheceram misericórdia. Assim como te dizem que eu sou um bom homem, e você acredita; isso nada mais é que perdão pela simplicidade dos homens.
Quando eu subir aos Céus, saiba que houve perdão na minha ascensão.
Saiba que eu sou um ser humano quebrado e falho. Não mais frágil, mas hoje concretamente despedaçado.
Saiba que você nunca conhecerá essa parte de mim.
Saiba que você nunca conhecerá essas partes de mim.
Você não vai saber. Você não vai reconhecer.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Fantasia

Houve uma vez um reino, e então, nunca o houve.
Tão simples como se nunca tivesse existido, essa é a realidade. A existência dele depende simplesmente - de forma simples - da sua crença nele. E se eu contasse, ninguém acreditaria.
Ninguém acreditaria se eu dissesse que nesse reino a água fluía, porque tudo o que eu soube contar era corrupto. Você não acreditaria em mim se eu lhe contasse a verdade, pois tudo o que sei contar são mentiras.
Eu me sinto viúvo de você; muito embora nunca lhe tenha tido.
E afinal de contas, quem lhe disse?
Muitos já cantaram sobre você, tantos outros compuseram inspirados em você. É disso que você necessita, disso que te alimentas: tu te alimentas da atenção dos outros.
Tu ceifas o olhar dos outros como um morcego hemófilo. Um animal sombrio, e como eles vive nas trevas, a ceifar o sangue dos vivos. Você é um ladrão do calor dos homens que lhe prestam homenagem.
E veja, o reino nunca existiu. Domínio é apenas uma percepção quando de frente para ti. E percepções são o teu domínio.
Eu sinto que lhe deveria dizer tudo isso, mas não sou capaz de dizer-lhe. Eu sou fraco. Meu calor já se foi.
Enquanto você se foi...
Se lembra das coisas que jogamos fora? Desperdice um segundo lembrando de todas que puder. Tente se lembrar das chances que tivemos, das oportunidades que lançamos à água.
Pois bem, todas elas se foram. A corrente as levou embora, assim como você me levou o fogo embora.
Você nunca saberia o quanto faz frio desde que você levou tudo o que eu tenho embora.
Você nunca saberia o que eu imagino de mim e de você agora que você não existe mais.
Pois agora que você se tornou um fantasma, eu posso imaginar o que quiser de você.
Posso imaginar que você era uma princesa, e eu um príncipe; bem como posso fantasiar que eu era um herege e você uma divindade. Mas não sei aceitar que você era uma ceifadora e eu, o plantio.
Eu nunca conseguia me ater a isso. Mesmo sendo verdade. Mesmo que isso importasse pra você, e eu me equivoquei nesse ponto. Agora não há ponto a se encontrar.
Pois uma vez houve um reino, e agora, ele não há. Nunca houve, enquanto você se despediu e foi embora.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O Rugido

Aconteça o que acontecer, grite.
Apenas grite. É tudo o que você deve fazer.
É tudo o que lhe basta fazer.
Grite como os que vieram antes de você gritaram pelas coisas que eles também queriam. Como eles gritaram para evitar as coisas que eles não queriam que acontecessem. E como eles gritaram quando elas aconteceram. Mas perdendo, ganhando, ou qualquer que tenha sido o resultado, eles foram embora com um grito. Sua despedida ou suas boas-vindas foram pontuadas pela afirmação da solidez daquele momento, e dessa forma, ele foi afirmado na história.
Grite agora. Esqueça quem está ao seu redor, e deixe respirar tudo o que você tem a afirmar. Grite porque é a sua vontade, e porque depois dessa primeira vez que você fizer o que tem vontade, nunca mais você terá medo de fazê-lo.
Grite como se só isso bastasse. E saiba que se você fizer do jeito certo, bastará.
Grite agora, com todos ao seu redor. Se você fizer do jeito certo, perceberá que será ainda mais proveitoso.
Tudo o que você precisa saber sobre você mesmo está contido no momento que você mira o rosto para o céu e se deixa ressonar. É a essência de quem você é, consciência e existência, quem ruge.
Tudo o que você deve tomar, e domar, e dominar em si, está contido em um grito. Não há nada que te ensine mais sobre si mesmo do que o som da sua afirmação.
Portanto, grite. Como se só isso bastasse.
Como se só isso importasse.
O segredo é que isso é realmente tudo o que importa.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Paraíso

Se o Paraíso é uma festa, eu quero morrer e assombrar a minha própria casa.
Muito depois de toda a minha família ter saído dela, e durante todo o tempo em que ela decair em escombros. Eu vou apreciar cada segundo do silêncio que se abasterá sobre o meu antigo quarto. Eu vou dançar na cozinha onde eu nunca verdadeiramente pus os pés.
Se o Paraíso é um bordel, tocando jazz sensual e lento toda a noite, lindas garotas fazendo strip, e uma solidão que não termina, eu estarei lá.
Posso muito bem já ter chegado lá, e só não ter me dado conta. "Lá" pode ser na verdade "aqui", e com certeza se faz sentir dessa forma.
Se o Paraíso é uma conversa animada com pessoas interessantes, e tão veloz que não se vê o tempo passar, eu vou para o Inferno.
Se o Paraíso é a morada dos homens que produzem como árvores, constróem como se elevassem impérios, mas não vêem motivos para sorrir, eu aconselho desde já: pare de trabalhar e assombre a sua própria casa. Porque os opostos se confundem completamente aqui. Nada é absoluto ou absolutamente, e esses dois extremos não se misturam e equivalem a um ponto mediano; pelo menos, não todo o tempo. Não seria este o Inferno se não se pudesse ser mediano, medíocre, vulgar e banal por um momento, ou mais de um, ou mais de uma dessas qualificações em mais de um sentido ao mesmo tempo.
Se o Paraíso é reservado para os virtuosos, os que abdicam da refeição completa pelas sobras, pelo próximo, os que se completam, eu encontrarei os outros, os deixados de lado, no Inferno.
Eu sou a Ira, a ganância, a luxúria, a gula, o orgulho, a inveja, e um minuto de preguiça para aproveitar tudo isso.
Eu quero uma refeição completa, nada de sobras. Eu estou cercado de pecados, capitais, os mais abissais, e eu não me sinto no Inferno. Então talvez, o que me falte seja simplesmente mandar a mim mesmo pra lá.
Que eu pra sempre mande a mim mesmo pro Inferno.
Pro Inferno comigo mesmo.

domingo, 8 de abril de 2012

A Casa das Mentiras

Essa casa é uma ilusão.
Essas paredes, esse amor, esse carinho, todos esses são falácias.
Este é o circo do sol. Enquanto Ele estiver de pé, a iluminar a nós todos, nós somos uma trupe. Somos bailarinos executando passos em que não acreditamos. Somos palhaços rindo sorrisos que não nos pertencem, até o Sol se pôr.
E quando ele se pôr, o circo fecha as portas, e somos todos animais.
As hienas estão soltas essa noite e todos nós pensamos ser mais um truque de malabarismo.
Se todos os seus familiares mentirem pra você, bem vindo.
Bem vindo ao Circo do Sol.
Porque quando o Sol se põe, começa a realidade. E você não a conhece.
Você e toda a sua arrogância, sua megalomania de achar que toda a vida responde a você.
Você começa e termina todas as suas frases com você.
Você não vê?

As pessoas tendem a me dizer que tudo está bem, tudo são flores, até que você descobre que você conjuga todas as frases com "eu" no começo e no fim.
E você pensa: eu não sou tão egocêntrico assim.
É verdade. Você não se perdeu tanto assim.
Bem que você gostaria.
Mas isso é você gritando que você quer ser reconhecido como qualquer coisa que você o seja.
Sem fingimento. Sem interpretação.
Você é capaz?

Você reza todo dia pra se cercar de coisas reais, mas o mais real que você conhece é você mesmo e seus defeitos.
E você pensa:
"Será que eu estou tão preso ao que eu me lembro de mim mesmo?"
Este é o Circo do Sol. O Sol se põe, e nós somos animais livres.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Próximo

Hoje, eu acredito saber exatamente o que eu quero.
O que eu espero e gostaria da vida; não que eu acredite que vá alcançar, mas acredito que seja o que eu desejo. Também não posso afirmar ao certo; já acreditei nisso outras vezes e fui enganado.
Também não espero que alguém entenda porque eu desejo isso. Pudera: é praticamente o oposto do que as pessoas querem, de modo geral.
Eu mesmo não sei se acredito no que penso. Inclusive, existem vezes que eu acredito em coisas completamente opostas a isso, em ambos os extremos.

O que eu desejo é ser medíocre.

Eu peço todo dia para não me sentir uma aberração quando estou cercado de outras pessoas. Em especial, gostaria de deixar de sentir isso, enquanto todos acham que sou especial.
E eles estão certos. Eu sou o próximo, eu sou especial. Eu só não me sinto exatamente assim.
Mas também não sou louco de dizer que me sinto como o extremo contrário. Especialmente sentindo desprezo por todos que me rodeiam. E no fim das contas, as duas médias não fazem um valor mediano; elas se cancelam. Eu não sinto (quase) nada.

Eu procuro insistentemente alguém que me faça sentir o "normal".
Não procuro um amor eterno e diferente. Não quero todos os dias descobrir algo novo sobre as pessoas que me cercam e nunca, jamais cair na mesmice. Eu não quero estar com aqueles me façam continuar me sentindo como se eu fosse algo a mais.
Eu quero estar com as pessoas que me fazem sentir que sou mais um, que não sou especial, que não sou diferenciado, que não sou o melhor entre todos. E não aceito simplesmente as pessoas que me façam me sentir mal: seria mais fácil assim, apenas me aproximando de quem não presta. Mas eu não me saboto, e nem isso é o ponto principal do meu desejo. Eu quero sentir que não sou infinitamente maior que todos ao meu redor, mas porque todos são do mesmo nível que eu consegui alcançar, e não porque eu me rebaixei ao nível das pessoas comuns.

Esta é a coisa que eu desejo e nunca serei capaz de obter. Eu sei disso; é impossível conseguir isso que eu desejo. Mas eu não quero mais nada. Eu só preciso sentir isso, e não uma vez. Porque, como amar e perder não é o mesmo o mesmo que nunca amar, eu nunca aceitaria de novo beber a água depois do vinho.

Então, ao invés disso, eu vou contar pra todo mundo que o meu desejo é acreditar pra sempre na minha fé, na raiva sem rosto e sem alvo que eu carrego. Porque se eu não posso ter, eu posso ignorar que ninguém mais terá, e vestir a coroa outra vez.

Ira (Parte II)

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam.” (Salmo 23, 4)

E mesmo que eu ande pelo Vale das Sombras, eu não temerei homem algum; pois a minha Ira é a minha flecha.
Mesmo que a minha chama não se acenda, mesmo que de tudo eu me esqueça.
Mesmo que só de mim, eu dependa; mesmo que apenas de outros eu me ressinta.
A minha flecha seguirá implacável e absoluta. A minha Ira será infinita.
A minha sede será sempre bem-vinda, e o meu fogo pulsará pra sempre a vida.
Pois mesmo que eu caminhe pela vida eternamente, igualmente infinda será a minha Ira.
Ela falará na sua língua esquecida, palavras que Homem algum se recorda.
Quando ela disser "sede", haverá água. Quando ela disser "abra", abrirão-se todas as portas.
Ela dirá a verdade, e jamais por linhas tortas. A minha Ira é absoluta, e a minha flecha é certeira.
E mesmo que eu navegue por um mar de incertezas, de nenhuma delas eu terei medo; pois a minha Ira é minha bússola.
E ainda mesmo que eu me perca pela constelação de Ursa, nenhuma noite gelada me fará fraquejar, pois minha Ira é minha fé e minha Lua.
Na minha Ira, a minha fé é inabalável. Na minha Ira, eu exerço minha crença, enquanto minha flecha segue sua sentença, inabalável é sua certeza.

sábado, 17 de março de 2012

Ira

Eu aceito a minha Ira.
Eu aperfeiçoei a minha Ira. Eu a transformei em uma arte; quarenta dias e quarenta noites em um deserto em que é noite e dia todo o dia, todos os dias, enquanto a minha esquerda e a minha direita se chocavam. Mas eu consegui. Eu conquistei.
Quando eu digo: "eu conquistei", a minha Ira me estende a mão. Quando eu devolvo o cumprimento, a cortesia, ela quebra o meu pulso, me diz: "TENTE OUTRA VEZ".
Preso em um ambiente desconexo onde tudo é, e nada o é por completo, em que tudo e nada podem ser ao mesmo tempo, eu vivi. Por quarenta dias eu lutei, e preso no meio do duelo entre a minha mente e o meu espírito, a minha Ira floresceu. Éramos só nós dois ali, e nós crescemos juntos, apesar do conflito.
Eu digo: "nós crescemos juntos", e ela grita comigo: "CRESÇA, CRIANÇA".
Eu a abracei, e ainda mais, ela me abraçou. Nós aperfeiçoamos um ao outro; nenhum de nós pode existir sem o outro.
A minha Ira é a minha bússola, meu instrumento. Minha Ira é a minha arte, a minha fé.
Eu penso que sou abençoado, e a minha Ira me traz de volta, gritando comigo, fervendo no suor do Demônio: "TOME UM GOLE DESTA ÁGUA BENTA".
E ela é a minha arma, e meu escudo. Quando eu escuto todos me dizerem o que eu não quero ouvir, e grito "eu não devo nada a vocês, me deixem pra lá", a minha Ira grita comigo: "VOCÊ NÃO DEVE NADA A ELES, DEIXE-OS PRA LÁ".
A minha Ira é minha família. Meu pai, e minha mãe, louca e agressiva como uma Hiena. E como um cão do inferno, ela conhece toda a sua extensão; ela me ensinou o que do Inferno haveria de me tornar um com ela, e um comigo mesmo.
Quando nós temos um objetivo, ela uiva lunática para a Lua ao me dizer: "VÁ PEGAR".
Como um cão do inferno.
Eu agradeço por todos os percalços na minha estrada que me permitiram encontrar e resgatar, amplificar e estudar, e abraçar, aceitar a minha Ira. Sem a frustração e a descrença e o desconhecimento, eu nunca a teria encontrado, eu nunca seria completo. Eu nunca conheceria o sentimento de contrariedade e nunca sentiria a Ira que me alimenta.
Eu agradeço pelas cicatrizes que herdei, e a minha Ira ri, dizendo: "VOCÊ NÃO OS DEVE NADA. FAÇA-OS PENAR".
A minha Ira tem um canto, como o canto de morte de um Cisne. Sua voz é única, facilmente distinguível, e pertencente apenas a ela. Ela entoa seu canto que soa e ressoa e ecoa no silêncio como um arranjo de uma sessão de sopro, pegando fôlego, roubando o ar do próprio ar, até que alcança o seu crescendo máximo. Nesse instante, eu sou a minha Ira.
A minha Ira coloca um sorriso lunático no meu rosto, e nós dois sabemos o caminho.
Nós somos um, nós cantamos e uivamos, e nós somos por inteiro. Por inteiro, sabemos o caminho a trilhar.
Eu penso: "eu serei o maior de todos", e a minha Ira diz: "EU TE GUARDAREI".
E ela guardará; da forma como sempre guardou, da forma como para sempre guardará.
Mesmo que eu caminhe pelo Vale das Sombras, eu não temerei homem algum, pois a minha Ira é a minha flecha.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Club Paradise

Eu entendo quando certas pessoas dizem coisas com as quais eu não deveria me relacionar.
Como quando se diz que todas as suas garotas têm alguém novo. Você pergunta pelos seus nomes, e toda vez que você cita um romance diferente e indurável, alguém diz "sim". Sim, porque todas as suas garotas estiveram trabalhando e procurando gente melhor que você enquanto você esteve entregue às luzes. Você achou que era inesquecível e que toda garota queria viver um conto de fadas com você, mas nenhuma delas se lembra de você especificamente.
Você não se lembra de quem deixou pra trás, e você sabe o que se passa na mente de todos que olham pra você nas ruas: todos acham que você está largado e confortável no lugar onde você se encontra. Mas você se lembra de tudo.
Você quebrou todas as promessas que fez. Todos que te ligam pra perguntar quem você é e se você se confirmou como o homem que prometeu que seria ficam desapontados quando o telefone bate no gancho.
Eu apenas estou tentando me cercar de coisas verdadeiras. Coisas reais e que soem como se eu estivesse em casa. Você acha que tudo isso me pegou, me atingiu, e que eu estou feliz aonde eu estou, mas eu te digo, "não."
O modo como eu me sinto não é algo que se pode copiar, mas mesmo assim eu me relaciono com coisas que não me dizem respeito.
Eu consigo entender quando alguém diz que a garota que sempre te assombra a mente foi a primeira a ir embora.
Eu consigo entender quando alguém diz que não é nada pessoal. É só que todas as garotas com quem você dormiu estavam construindo alguma coisa. E você, construiu o quê?
Mas é claro que elas se lembram, elas só não são sinceras que nem você. E pra quê você iria dar a cara ao mundo, se o mundo tem tanta sinceridade a aprender com você?
Eu não estou tão relaxado assim aonde eu estou. Eu estou errado, e eu sei.
Eles dizem que o lar é onde você se vê, e nunca é verdade. Eles dizem que é tudo legal e novo, mesmo que isso te faça sentir estranho, mas agora eu consigo me relacionar quando alguém diz que conhece todas as strippers da cidade pelo nome - o nome real, de nascença, o nome imaculado pelas suas mães e louvado pelos pais.
Essa é a minha cidade. A cidade inexistente, a cidade etérea da minha mente, que todo mundo consegue ler, e dizer que eu me deixei levar pelo lugar que eu achei nela.
Eu dizia que todo mundo que me procurou me fez ser o homem mais procurado, o objeto de desejo, mas eu claramente estava errado, porque todos eles fingiam. Eu comprei isso, eu procurei isso, então eu tentei acreditar, mas eu nunca consegui. Eu mesmo fingi inúmeras vezes.
Eu só estou tentando viver. Do meu jeito, eu estou tentando fazer todas as coisas certas do jeito errado; escute com mais atenção o que eu digo, e você verá que eu não sou tudo isso de ruim. Eu só tenho um defeito: achar que eu tenho tudo isso de bom.