quinta-feira, 14 de junho de 2012

Fantasia

Houve uma vez um reino, e então, nunca o houve.
Tão simples como se nunca tivesse existido, essa é a realidade. A existência dele depende simplesmente - de forma simples - da sua crença nele. E se eu contasse, ninguém acreditaria.
Ninguém acreditaria se eu dissesse que nesse reino a água fluía, porque tudo o que eu soube contar era corrupto. Você não acreditaria em mim se eu lhe contasse a verdade, pois tudo o que sei contar são mentiras.
Eu me sinto viúvo de você; muito embora nunca lhe tenha tido.
E afinal de contas, quem lhe disse?
Muitos já cantaram sobre você, tantos outros compuseram inspirados em você. É disso que você necessita, disso que te alimentas: tu te alimentas da atenção dos outros.
Tu ceifas o olhar dos outros como um morcego hemófilo. Um animal sombrio, e como eles vive nas trevas, a ceifar o sangue dos vivos. Você é um ladrão do calor dos homens que lhe prestam homenagem.
E veja, o reino nunca existiu. Domínio é apenas uma percepção quando de frente para ti. E percepções são o teu domínio.
Eu sinto que lhe deveria dizer tudo isso, mas não sou capaz de dizer-lhe. Eu sou fraco. Meu calor já se foi.
Enquanto você se foi...
Se lembra das coisas que jogamos fora? Desperdice um segundo lembrando de todas que puder. Tente se lembrar das chances que tivemos, das oportunidades que lançamos à água.
Pois bem, todas elas se foram. A corrente as levou embora, assim como você me levou o fogo embora.
Você nunca saberia o quanto faz frio desde que você levou tudo o que eu tenho embora.
Você nunca saberia o que eu imagino de mim e de você agora que você não existe mais.
Pois agora que você se tornou um fantasma, eu posso imaginar o que quiser de você.
Posso imaginar que você era uma princesa, e eu um príncipe; bem como posso fantasiar que eu era um herege e você uma divindade. Mas não sei aceitar que você era uma ceifadora e eu, o plantio.
Eu nunca conseguia me ater a isso. Mesmo sendo verdade. Mesmo que isso importasse pra você, e eu me equivoquei nesse ponto. Agora não há ponto a se encontrar.
Pois uma vez houve um reino, e agora, ele não há. Nunca houve, enquanto você se despediu e foi embora.

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