sábado, 7 de fevereiro de 2009

Penugem de Corvo

Palavras me parecem amplamente triviais no momento. O que eu poderia dizer que não sentisse, e pra que dizer se já as sinto? O que dizer que me faça não sentir? Não existe remédio, não existe um projeto. Não existe mais uma rota de fuga. Nada é tão pueril quanto métrica e rima quando não se pode ver o chão da beira do precipício. Nada é tão lúrido quanto uma revolução poética em calçadas desenhadas em giz branco. Ver e aceitar pelo que se é. Presumo que isso seja um túnel, porque mesmo estando escuro, consigo andar em frente, mas o movimento lateral é limitado. E no escuro desse polígono ouço vozes. As minhas, a sua, de nós dois, desconhecidas vozes, desesperados murmúrios, gritos em terror, aterrorizantes balbúcias, enquanto os ramos se desfazem e as raízes se tornam. E como lampejos as luzes tornam a se ligar, e vejo formas desconexas e horripilantes beirando as paredes como fantasmas do meu passado, como olhos vermelhos na noite veloz e saciável, uma pena de alívio pela retribuição vulgar. Espreitando. Esperando pelo escuro com os olhares vingativos do perdão; esperando as luzes falharem mais uma vez para relançarem seu tribunal de vozes alucinadas. Eu sei como isso termina: em pedidos de desculpa e tinta em páginas brancas. Como séculos de sangue virgem correndo em minhas veias tramam para convencer minha mente ávida que o prazer nada tem a ver com o milagre da necessidade. A necessidade tempestuosa de aves de rapina. Nada é tão lúcido quanto uma promessa nublada por psicose. Essa é uma confissão de meu espírito, cicatrizes negras à prova d'água num quadro branco, puramente só. Um manifesto lentamente construído de tremer como base na ponte de uma canção e cada vez menos como o poema que escrevo. O porque do soneto se fazer estéril sarcasmo. É tudo o que tenho: linhas tintas e caridosas, um refrão com vozes harmônicas, uma oferta, uma epopéia filarmônica, nesse túnel em chamas de vozes em crescendo, crescente tragédia.

- Ao som de: Blink 182 - Adam's Song -

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