quinta-feira, 14 de maio de 2009

A Madrugada Assonora

Eu tenho um problema eterno com a madrugada.
É uma relação de extremos, a nossa, como não poderia deixar de ser. É a hora em que eu funciono, de fato. Como já disse o grande Vinícius de Moraes: "de manhã, escureço; de dia, tardo; à tarde, anoiteço; de noite, ardo". Conotações sexuais travessas que possam vir atreladas ao último verso - e eu sei que alguém vai pensar "travesti" quando o ler, então, nem pensem. É o momento em que eu consigo pensar, criar, prestar alguma atenção, calcular, andar à frente. Mas é um instante injusto, e em um instante vago, o foco se perde, as luzes ofuscam e ameaçam desligar-se, e eu entro num mundo sombrio como a própria, aonde eu construi um lar. "Adaptabilidade" não é a palavra correta, mas é a primeira que me vêm à mente.
Como não poderia deixar de ser, o anoitecer é meu ciclo de vida. A criatividade gera profundidade de espírito que se encolhe de medo que produz. Se encolhe sozinha e cria um imaginário estelar, um maquinário de engrenagens cinzentas e lustrosas. Os motivos de atenção se esvanessem, restando pouco no que se focar e se perder senão o próprio. E a mente viaja livre no escuro ao longe, pela janela, nas luzes foscas de insones, aqueles como eu, ou amendrotados como de outrora.
Como haveria de ser, lá fora faz frio, como aqui dentro. Lá fora é o breu, e é bonito como a arte do acaso. Além do vidro, existe uma vida singular, de tantos pontos desfoques, e mesmo assim única.
Como haveria de ser, eu não vou à aula amanhã.

Um comentário:

Olívia disse...

Ai gente! Atualiza isso aqui.