terça-feira, 4 de outubro de 2016
Meia-Noite
Eu gostaria de te convidar a me encontrar agora, antes que o tempo me alcance. Só pra que nós conversemos.
Porque eu gostaria de conversar sobre o medo, sobre heróis, sobre flores, sobre as garotas...
Sobre o tempo que passa e ameaça nos passar, nos deixar pra trás, nos alcançar.
Sobre a alegria e a loucura que tomam conta de mim às vezes, quando eu lembro de você.
Sobre aqueles planos que eu fiz e joguei fora, pra que carregasse menos peso e pudesse correr mais rápido que o tempo que me intimidava.
Sobre garrafas vazias de vinho, sobre porque nós preferimos a noite e porque não contamos pra ninguém quando hoje é nosso aniversário.
Porque eu gostaria de falar sobre mim, sobre você, sobre tudo. Sobre a forma como levamos nossas vidas.
Você é diferente de mim, e nós dois de todos os outros, e levamos vidas tão diferentes uns dos outros, e mesmo assim, às vezes nós festejamos como se desejássemos a mesma coisa. Não é tão bonito como nós somos tão diferentes e ainda assim festejamos as mesmas coisas?
Essa primeira dúzia de coisas sobre as quais eu admito que gostaria de conversar com você podem até amanhecer em cinzas, porque essa é a ordem natural das coisas.
Eu gostaria de conversar com você sobre a ordem natural das coisas, e como as coisas estão se tornando pó a cada momento que passa. Mas não hoje. Talvez amanhã.
Certamente amanhã.
Por hoje, eu queria me perder nessa meia-noite, em que nós nos encontraríamos pra falar de nós, sobre como as pessoas envelhecem e sobre como elas se perdem no meio da euforia e nunca mais encontram o caminho pra casa.
Sobre como o tempo não nos permite quase nada, e como eu gostaria que nós nos permitíssemos agora, somente por esta meia-noite.
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