terça-feira, 15 de abril de 2008

Altruísmo Involuntário

Começou com eu pegando um ônibus no ponto perto da casa da minha namorada.
Ela mora na Ary Parreiras e eu queria ir para a casa de meus avós, ou seja, peguei um ônibus em direção à praia.

O ônibus era o 61, linha Brasília. Um micro-ônibus, na verdade. Um micro-ônibus bem escroto por sinal, que só pára no ponto mesmo.
Fiz sinal ao vê-lo, um pouco distante, antes do ponto. Mesmo sem carro algum vindo atrás, o filho da puta só foi parar no ponto, bem à frente, me fazendo correr para pegá-lo, antes que abrisse o sinal.
Nisso, uma garota também corria para pegar o ônibus. Eu pouco me fudia para ela, pretendia até entrar antes. Mas ela foi mais rápida, e quando eu parava pra recuperar o fôlego, ela subiu me dando um "obrigado" acreditando que eu dera lugar para ela subir.

Dentro do micro-ônibus, uma surpresa: O preço não era de 2 reais, como eu tinha imaginado (ando com o dinheiro do ônibus na mão antes de entrar, para agilizar minha entrada, já que o motorista é também cobrador). Sentei atrás do motorista, de frente para a porta de entrada, para contar moedas e inteirar a minha passagem. Nisso, fiquei vendo a garota. Ela tinha apenas uma nota de 2 e uma outra nota de 50. O motorista obviamente não tinha troco para a segunda nem ia ficar no prejuízo aceitando a primeira. "Se fudeu", pensei. Olhei em volta para os outros passageiros e soube que ninguém iria querer pagar também. Continuei procurando nas minha moedinhas.

Quando me levantei para pagar a passagem, entra um velhinho no ônibus. Um velho bem velho, meio passado, daqueles que a gente olha e sabe que é o nosso destino e espera que demore pra caralho pra chegarmos lá. Para subir no ônibus, apoia a mão no corrimão e agarra o meu desprevinido braço, quase puxando nós dois para a calçada. Eu não podia agitar meu braço, porque o senhor ia ficar bem detonado se caísse na calçada. Fiz força e puxei-o para dentro. "Obrigado, rapaz", ele disse. Avançou e sentou-se no meu lugar, em frente à porta. ¬¬

Paguei ao motorista com uma moeda de 50 centavos. Daí, sentei-me ao lado do velho. A garota me cutucou, sorrindo: "Você pagou a passagem para mim?". Caralho, merda, porra. Odeio perder dinheiro, mas também não podia dizer: NÃO PORRA, PAGUEI A MINHA PASSAGEM, MAS O MOTORISTA FOI BURRO E ACHOU QUE EU ESTAVA PAGANDO A SUA E PORTANTO NÃO ME DEU TROCO. Isso seria rude. E rude é ruim. Sorri e respondi que sim, eu tinha pago, mas ainda faltavam 10 centavos para pagar a passagem de ambos. A garota respondeu que não tinha, que só tinha 50 reais (em um tom que qualquer assaltante no ônibus ouviria). Senti vontade de enfiar sua cabeça através do vidro. Felizmente uma senhora me impediu, oferecendo 10 centavos. Uma boa alma.

Durante o trajeto, o velhinho me perguntava a cada rua se eu sabia onde era a Lopes Trovão e se ela já tinha passado. Eu teria que saltar no ponto entre a Presidente Backer e Lopes Trovão, então disse que iria avisá-lo na hora certa. "Deus te abençoe", disse o senhor. Isso me deu um aperto no coração.

Chegando no meu ponto, levantei-me para saltar, e fui até a porta. Ia largar o velhinho ali no ônibus, só para poder fazer uma má ação. Mas faltou-me coragem. Avisei-o que ele deveria saltar para ir pra Lopes Trovão. E enquanto eu descia, adivinhem? Novamente o agarrão no meu braço, dessa vez para descer.

Já na calçada, ele me disse: "Obrigado filho. Esse mundo precisa de mais gente como você". (E começou a ir embora, na direção da Presidente Backer, mas mudou direção e foi pro lado certo.)

Me senti realmente mal com a afirmação do velho. Não queria ter ajudado ninguém, mas todo mundo ficou admirado mesmo assim, só faltou ganhar a chave da cidade.
Por isso que tanta gente merda se dá bem nesse mundo...

Na casa da minha avó, perdi o apetite, não consegui almoçar.


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Pelo menos estou melhor que o Oráculo e seu tratamento com velhinhas lerdas na calçada:

CAI FORA, PORRA!

2 comentários:

Oráculo disse...

Eu não consigo evitar, cara. Vejo aqueles quadris do tamanho de pneus, balançando com o impacto das enormes sacolas de mercado que os braços miúdos apoiam em sua lateral, e me dá vontade de bater a cara delas na parede.
Mentira, o que me dá vontade mesmo é ouvir metal extremo e estar atrasado.

Bobê disse...

Vai escrever bem assim.. no meu blog xD
Mamããe, cê é uma boa pessoa, acredite iauehiuh vai indo nessa que no final cê vai se dar bem.. bacana mesmo ia ser a menina lendo isso aqui xDDDDD
uaheuiheuieahauiheu