quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ponderações e desejos

Algumas vezes, especialmente quando estou deitado em minha cama e o meu barulhento ventilador está no máximo, parece que escuto o barulho do filme da minha vida correr pelo rolo.
São aqueles rolos grandes, com um monte de quadros.
E eu escuto quadro a quadro passando pela tela.

*tlec**tlec**tlec**tlect**tlec*

Nessas horas, caio em meditação.
Como em uma experiência de quase-morte, alguns quadros vão passando.
Mas estranhamente só me retenho nos quadros que traziam alternativas paralelas as que eu escolhi.

Fico imaginando como seria se não tivesse tido preguiça e me matriculasse com meus amiguinhos (que eu acabei me afastando) na escolinha de surfe, aos 12 anos. E como seria se eu tivesse ficado realmente bom no negócio. É provável que hoje em dia eu fosse bem escroto, mas não sofreria tanto no período infernal que foi da 5ª à 8ª série, pois ainda estaria andando com aqueles que me fizeram sofrer, por ter feito sucesso entre eles.
Eu tinha vontade de surfar, não por causa daqueles moleques, mas porque parecia uma coisa legal.

E se eu realmente tivesse me dedicado à alguma coisa?

Se eu realmente entrasse de cara no piano, praticasse 16 horas por dia? Tem um garotinho de 11 anos no meu Conservatório que toca melhor do que eu. (Sim, ele é um fenômeno e aparece em todas as revistas e jornais, mas ainda assim toca melhor do que eu com 7 anos a menos). Eu poderia chegar até o Carnegie Hall em Nova York. Poderia ser o melhor do mundo, lançar Cd's que as pessoas comprariam e escutariam em engarrafamentos ou sessões de Yoga. Mas eu sei que não tenho capacidade nem perseverança para isso. Nem para superar o garotinho de 11 anos.

*tlec**tlec**tlec**tlect**tlec*

Eu poderia me dedicar a um jogo de videogame. Quem nunca sonhou em participar do campeonato mundial de um jogo em Tóquio e vencer o atual campeão, um japônes demoníaco, numa final emocionante, com tudo gravado e upado no Youtube, para que as gerações futuras se inspirassem em você? E no entanto, nem isso eu consigo.

Nem inteligente suficiente eu sou. Ao invés de estudar, me disperso. Aprendia a matéria por osmose, mas agora que os professores não dão matéria e os alunos têm que correr atrás, começo a sentir o peso da (ir)responsabilidade em minhas costas.

Caralho, não sou nem engraçado o bastante para ser alguma coisa expressiva. Eu queria fazer a piada mais engraçada do mundo. Aquela que assim que eu terminasse de escrever, eu morreria, de tanto rir. E no entanto, se meu sonho era ser um Monty Python, estou mais para Tiririca.

E escuto o rolo passando a entro em agonia profunda. Eu queria ser o melhor em alguma coisa.
Todo mundo quer, na verdade. Toda a humanidade possui um desejo inato de querer se destacar do resto da humanidade.

*tlec**tlec**tlec**tlect**tlec*

A dúvida surge: Vale mais a pena ser o melhor do mundo em uma coisa e ser uma merda no resto ou ficar na média, sendo medíocre em tudo?

Tudo bem, não quero fugir do meu destino. Sei, por exemplo, que eu nunca terei um pênis igual ao rabo de um Saiyajin, dando uma volta na cintura.

Mas, caralho, eu podia ter me esforçado mais.
Eu podia ter me destacado entre todos.
Eu podia ter sido o melhor em algo.
E se o rolo acabasse agora?
O que eu teria sido?
Expressivo?
Regular?
Médio?
Nada?


*tlec**tlec**tlec**tlect**tlec*

3 comentários:

Guilherme Alfradique Klausner disse...

Caraca...

Oráculo disse...

Tá lendo muito Stephen King, cara. Mas belo texto, certamente. To devendo muita coisa pra esse blog...

Turtleboy disse...

Uau O.O
texto incrivel!!!!!
pow, nao sei se isso serve como consolo, mas vc eh melhor em alguma coisa, coisa insignificante, mas vc eh um dos meus melhores amigos ^^

abracao!!!!!!