sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sentei ao lado de um cara com um rifle

Ando de ônibus em Niterói desde que me entendo por gente, então isso deve ser desde uns 3, ou 4 anos. Nessa época, andava com meus pais, avós ou babá. Desde os 11 ando sozinho mesmo. Desde os 16 passei a pegar ônibus após 23 horas da noite. Não ter um carro é uma constante na minha vida.

Essa é uma das desvantagens de se morar na Região Oceânica. Não importa o que você vá fazer, vai ter que pegar um ônibus, mesmo que esteja indo para algum lugar na Região Oceânica. Mas, muito provavelmente você vai para Icaraí / Centro mesmo, simplesmente porque praticamente tudo é lá.



Pois bem. Nesses anos todos de andança, pensei ter visto de tudo. Já vi assaltantes armados; já fui assaltado; já denunciei assaltos e vi a polícia chegar e fazer a prisão (yeah, baby); já vi bêbado chapado de maconha oferecendo flores pras donzelas; já recebi por engano oferta de flores por bêbados chapados de maconha; vi cegos pedintes de esmola pegarem moedas jogadas em pleno ar (DareDevil Style); vi travestis reclamando do programa que tinham feito, peguei ônibus lotados o suficiente para ter gente viajando com o tronco para fora da janela; vi gente montar cadeiras de praia nos corredores de ônibus lotados; cachorros transportados em caixa de OMO semi-cheias (isso fui eu que fiz, mas é outra história).





Bem, em conclusão: Achei que tinha visto de tudo.



Mas, igual à tudo na vida, sempre aparece um cara com um rifle no ônibus para nos surpreender.





Então, lá estava eu, hoje, meio-dia num 38A indo pra Icaraí. Um ônibus com quase todos os bancos cheios. Na parte de trás, atrás do cobrador, dois alunos de escola pública e um cara negro, pouco simpático. Podem me chamar de preconceituoso, etc e tal. Mas sempre fico com um pé atrás na hora de sentar ao lado de um afro-descendente com menos de 50 anos, por traumas passados. Vi que lá na frente do ônibus tinha uma garota (para quem é fresquinho e quer me crucificar, digo logo, era branca) com um violão. Pensei: "Bem, é uma garota e um violão. Que mal teria?".



Sentei.



Analisei melhor o violão e vi que não era um violão. Percebi que na verdade era uma espécie de berimbau, ou outro instrumento musical, envolto em uma capa de couro. Achei engraçado. Nunca tinha visto ninguém com um berimbau num ônibus. Muito menos guardado numa capa de couro.



Reparando melhor na garota, vi que ela tinha um seríssimo problema de acne. A cara era cheia de buracos. E reparei que ela não era uma garota. Era um cara, talvez um dos mais feios que já vi. Parecia um cantor do Hanson, só que ainda mais feio. Muito mais. Primeiramente, acho que deixar o cabelo comprido é uma das coisas mais gays que um cara pode fazer (só perde para 1- operação mudança de sexo e 2 - relacionamento homossexual). Segundo que o cara era feio, do modo como o Sloth dos Goonies era. No geral, lembrava um cruzamento de Sméagol com Kurt Cobain.



E ele usava umas roupas engraçadas. Parecia que tinha parado no tempo, na Nova Orleans do começo dos anos 90, no surgimento do movimento grunge. Usava um casacão verde, no estilo GAP, ou no estilo Rufus - O Lenhador. Engraçado também, e completamente deslocado para o calor que fazia.



Virei pra frente, não sou de ficar observando as pessoas ao meu lado, acho feio. Passados uns 10 minutos, o ônibus passava pelo Cemitério do Parque da Colina e o cara dormiu. O berimbau escorregou um pouco das mãos dele e de deslocou do lugar onde estava. Não reparei nada por um tempo.



Até que olhei para o lado do corredor e vi que uma uma velhinha me encarava, desesperada. Pensei: "Bem, parece que a fama se espalhou e essa velha já sabe quem eu sou >=) ". Mas, seguindo o olhar da velha, vi que não era pra mim que a velha olhava. Era por rapaz. Mais precisamente, para o que ele tinha em mãos. Por debaixo da capa de couro, dava pra ver nitidamente que era um berimbau com gatilho.



Analisando melhor, vi que não podia ser um berimbau, pois era muito grande, nem um violão, pois era muito fino. Seguindo o contorno da capa, pude ver o carregador, a alça da mira, o gatilho, a soleira e a coronha (aquela parte que você apóia no ombro para atirar). Deu pra entender que era um rifle, e que estava apontado para o chão. Fiquei pálido. "Uau, se eu estivesse do lado do cara negro estaria mais seguro". Maldito preconceito. Lembrei aonde eu tinha visto roupas iguais daquele cara. Nos filmes da Columbine High School. Decidi não me mexer, senão o cara acordava. Fiquei imóvel. Se estivesse brincando de estátua, seria a sensação. Senti que o ônibus todo me encarava, esperando o maníaco acordar e fazer a sua primeira vítima, que obviamente seria eu. AH, FILHOS DA PUTA. Se ele apontasse o cano pra mimm, eu pegava e apontava pra cabeça do primeiro que visse.

Bem. Consegui me manter imóvel do Largo da Batalha até a Roberto Silveira, para decepção do patléia. Quando cheguei no primeiro ponto da Roberto Silveira, puxei a corda e me levantei. O cara ao meu lado acordou. E sorriu pra mim. Caralho. Além de psicopata, ainda é viado. Nervoso, sorri torto de volta. E me virei pra sair do ônibus. Quando descia as escadas ouvi alguém declarando um assalto. Na rua, virei e vi que o negão dos fundos do ônibus estava de pé, com um revólver na mão, anunciando um assalto. Pensei: "Yes, isso aí, tomem isso seus hipócritas!Ainda bem que não sentei do lado dele!". Reparei que o cara do rifle segurou a arma, como se fosse esboçar uma reação e.....

E não vi nada. O ônibus andou e perdi a melhor parte da história. Aliviado por não estar lá e decepcionado por perder a conclusão, fui andando para o meu destino.

Chegando em um computador, procurei nos sites de notícia se alguém sabia da conclusão da históra Revólver X Rifle, ou se o cara do rifle tinha feito fosse lá o que ele queria fazer com ele.

Não achei nada. Se alguém souber, comenta. Afinal, em Niterói todo mundo acaba sabendo de tudo, e quando a gente acha que ouviu de tudo...bem, andar de ônibus prova estarmos errados.

9 comentários:

Unknown disse...

E ele usava umas roupas engraçadas. Parecia que tinha parado no tempo, na Nova Orleans do começo dos anos 90, no surgimento do movimento grunge.

Você quis dizer Seattle, certo?
Nova Orleans é blues, cara .-.

Guilherme Alfradique Klausner disse...

HUAHUHU BIZARRO BROTHER. E acabou q seu preconceito pode ter te salvado!! HUAHUHUA

Lo Scienziato. disse...

acho que você dormiu em cima de um mangá

Guilherme Alfradique Klausner disse...

Sobre ser cabeludo, me apresenta um cabeludo gay e, msm q vc consiga achar um, faça um cálculo de qntos cabeludos são machos em relação aos viados e o mesmo com quem tem cabelo curto. Aposto q cvc vai achar mto mais viado de cabelo curto. Isso, sem falar é claro de q só a partir do século XIX as pessoas passarm a cortar o cabelo como hábito de higiene.
Só mais um exemplo histórico: Eram os Vikings viados?

Juliana Valentim disse...

caramba não soube de nada, mas já sei que eu não devo pegar onibus que vai ou volta da região dos lagos.

Turtleboy disse...

os Vikings eram viados, nao deixavam entrar mulheres nos seus barcos...

Oráculo disse...

Ângelo é um gênio. E Guilherme é gay. Seja cabeludo ou careca.

Vinícius disse...

Caralho, que loucura. Mas se bem que o que te salvou de fato foi simplesmente sair do onibus.



e gente com cabelo grande é viado sim.

Yuichi Inumaru disse...

Deviam desenvolver uma escala para medir a viadagem através do comprimento do cabelo.

Tipo, careca, macho pra caralho, máquina 2, macho mas mais fraquinho, até a orelha só enruste, 4 dedos abaixo da orelha brinca com o brioquinho, passou do pescoço é quase traveco.