terça-feira, 17 de novembro de 2009

Slow Motion

Nada é tão pueril quanto o conjunto das palavras. Hoje eu posso dizer com todo o orgulho que eu desperdicei meu tempo. Posso afirmar com todo o orgulho que meu remorso me permite ter: sou representante de uma juventude perdida. O avatar de um potencial jogado fora, o estandarte de um coletivo cujas mentes não olham pro mundo com o mesmo carinho que examinam o próprio nariz. Me pergunto se sempre fora assim; se meus pais, com meus dezenove anos, também tinham a minha falta de determinação. E em caso positivo, se é esse defeito hereditário. E mais importante, se é esse defeito contornável, reparável. A sensação mais triste que um homem pode carregar no peito marcado é o desperdício. E o tempo não volta, o mundo não para, não existe magia, vacina, oração, não existe milagre, não existe solução instantânea. Tantas chances e tanta negligência, tanta pressa, tanta insegurança, tanta angústia, e o ponteiro marchando incansável em direção à lástima de se ver a vida passar, a capacidade bater forte contra o lado interno do tórax e implorar pra ser lembrada; o exercício te olha nos olhos e resignado, olha para outro lado, como o infiel nega a visão da cruz, e diz o que seus pais, seus mentores, e seus ídolos diriam, "que perda". Quantos passos o relógio deu em direção ao fim desde que comecei a perder minha identidade? Quanto tempo me resta pra começar de novo, e quanto tempo me restará até que eu enfim comece? Não existe retorno e as saídas perdidas vão ficar no campo do improvável. Pare de mentir para si mesmo e vá atrás do que deixou de lado. Eu tenho vivido em câmera lenta. Quantas voltas o mundo deu e eu não vi desde que comecei a escrever isso?

Um comentário:

Andrei disse...

muito legal, e ninguem comenta nisto?
impossível