segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A Rosa Negra

Descobri que, segundo o tarot, esse ano é o meu Ano da Morte.
Antes que alguém corra o risco de sofrer o ataque cardíaco que quase sofri quando soube disso, a Morte no tarot não significa de fato a morte física. Significa sim, um período de transformações intensas. A simbologia na carta - que leva o número 13, como se já não fosse ruim o suficiente - indica, através de imagens que não convém citar, que o velho deve ceder lugar para que o novo prospere; a quebra de uma ilusão, ou a ruptura de alguma situação já enraizada no cotidiano; enfim, o término de um ciclo. E é curioso atestar que tudo isso se fez verdade ao longo desse ano.
De um poeta vulnerável, me fiz sarcasmo estéril; de complacente e apaixonado, me tornei um pistoleiro: calculista, insensível, sempre de arma em punho, e como um único objetivo em mente, pronto pra abandonar, deixar morrer por tal meta. Já cansei de ouvir amigos dizerem que não me reconhecem mais, enquanto outros dizem que me tornei aquilo que costumávamos odiar ao machucar e esquecer com tanta facilidade.
Mas o ano não acabou, e parece que não me transformei ainda no que a Morte roga para mim. Parece que o ciclo ainda não terminou, e sim, está perto do fim; porém, não o suficiente pra ser dado como passado. Ainda resta algo do antigo poeta, e esse algo é minha amígdala: por mais que se tente arrancá-lo fora, sobra um pedaço a infeccionar. E ontem, esse último resto de essência do velho eu - do frágil e triste eu - caiu vítima de um disparo certeiro da minha arma de pistoleiro. Vítima da consciência de saber ter acertado em cheio, aonde a dor é insuportável, e prolongada.
Fiz alguém sofrer ontem. Não só isso, mas cometi uma atrocidade. Causei o tipo de sofrimento que perdura por noites a fio, roubando o sono, partindo o coração, secando os olhos até que morram frios.
Isso tudo pode ser resumido em uma cena de "O Conde de Monte Cristo": o reencontro de Edmond Dantes e Mercedes com Fernand Mondego. Na mira do revólver de Mondego, Dantes diz a seu rival que ele não conseguiria pará-lo com apenas um tiro, a qual Mondego responde: "então atirarei aonde dói mais", atirando em Mercedes em seguida. Me sinto agora como Fernand Mondego. Exceto pelo fato de saber que, no meu caso, Holywood e os finais felizes dos romances não podem salvar Mercedes. Nessa história, Mercedes morre, com os olhos vidrados embaixo da terra, sobrando só uma carcassa, enquanto o ar pega fogo no Inferno que se tornará a minha segunda-feira.
E arrependido, eu redijo esse texto, sabendo que não será a última vez que isso acontecerá. Pelo contrário.
A Morte anda de mãos dadas comigo esse ano. E andará enquanto trilhar o caminho do pistoleiro.
E é inútil lutar contra o chamado às armas quando a primeira pergunta diz respeito a ver e aceitar pelo que se é.


"A terceira carta é a Morte. Mas não para você, pistoleiro."
- Walter, Mago Negro, "O Pistoleiro - A Torre Negra, volume I"


- Ao som de: Fightstar - Paint Your Target -

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