segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Curva À Frente

A velocidade com que os quilômetros regrediam o assustara.
- Não estamos muito rápido? - perguntou àquele a seu lado.
- Depende de onde se quer chegar.
Ele continuou fitando Aquele com as mãos ao volante enquanto calculava a distância entre a pergunta feita e a resposta recebida.
- E para onde estamos indo? - se rendia então à implacabilidade.
E media o vão de quilômetros entre sua pergunta e o silêncio que recebeu como resposta.
Permaneceram ambos dessa forma enquanto as centenas de quilômetros se transfomaram em dezenas.
- Não faça perguntas as quais você mesmo não é capaz de responder.
E Ele sentia seu coração apertar, mas apaziguar, e encontrar um motivo para não se sentir vulgar.
Mas ainda era incoerente.
- Eu ainda não entendi - e ainda assim, persistente.
Viu o rosto d'Aquele se transformar em repulsa irônica. O velocímetro teimava subir. E quando estava certo que, então, iriam mergulhar na filarmônica calada da noite:
- Você faz as perguntas erradas.
Arregalou os olhos, vendo placas de sinalização sob a fraca luz dos faróis. E tendo essa paisagem em mente, se permitiu um lampejo de sobriedade.
- Aonde eu quero chegar? - disseram a si mesmas as palavras.
- Não repitirei minha resposta.
Quando Ele formulava a próxima indagação, o motorista virou-se para ele em um instante muito breve.
- Se você não é capaz de responder à essa pergunta, não a faça.
- E por que não a devo fazer? - sentia-se preso em um carrossel de vozes.
- A resposta pode não lhe confortar.
Estava certo. Não o confortou.
- Você não me respondeu para onde estamos indo. - como o céu a se abrir, viu o rosto d'Aquele se firmar em um sorriso de um sarcasmo quase artístico. Mas ainda assim, implacável.
E como o silêncio o agredisse, revidou.
- Me diga, por favor, aonde estamos indo! - seus olhos se enchiam de lágrimas. Ele nem sabia porque.
E o silêncio parecia esmoecer.
E olhou para o retrovisor, e viu Aquele fixo na paisagem refletida no espelho, mais perto do que realmente aparecia nele.
E Ele sentiu-se entrar em êxtase, algo inquieto, vislumbrado.
E por um momento, eles se entreolharam, e Aquele viu perplexidade no rosto de seu passageiro.
- Você realmente não entendeu, não é?
Sentiu a confusão se misturar com o anseio, e a vontade se transformar em medo.
- Nós não vamos à lugar algum.
E todas as emoções se transformaram em lástima quando Aquele desafivelou o cinto, tirou as duas mãos do volante e apertou o pedal.

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