sexta-feira, 10 de abril de 2009

Miragem

Você teve tanto tempo pra pensar em mim, e escolheu agora, logo agora, justo esse momento, pra voltar a me ver desenhado no escuro teto do seu quarto enquanto se deita em seu leito de morte. Você teve Carnavais inteiros pra perceber que aquela rotina era vã e vazia, que o que você queria era sublimidade, sub-unidade, mas você entendeu atrasada e os transformou em Finados. Foram meses de gelo numa estirpe minimalista, mas você acreditou em Sol através das nuvens que desenhavam meu nome, e quando o tempo virou, você foi pega na reviravolta. E logo agora, justo agora, quando o oceano parara de se debater, voltava para o núcleo satisfeito em não o ser por inteiro, você se prosta de pé do lado de fora de todos os detalhes que reconstrui com cautela fanática, com seu coração em punho como uma pedra, e calcula a distância da fração mais doce do arremesso, com medo de completar o movimento, mas fazendo as janelas trincarem irritadas. Por que você não percebe que foi você a incendiária que ateou fogo ao equilíbrio do meu sono, e parcialmente resignada por seus erros, continua incendiando a minha loucura em levar tudo ao fim do caminho simplesmente por não tê-lo feito você mesma? O seu caminho é cravejado com rosas flamejantes que você não consegue cortar, não lhes consegue tirar a vida. Eu tentei te levar por um atalho, te ofereci a carruagem de um leão, quis te oferecer um lugar ao sol que eu não tinha, mas por você, criaria. E você se esvaiu em confetes, fez tripas de um coração inverso, e agora pensa mandar pelos ares uma história que tomou lugar no calor escaldante de um domingo e redecorar em um jardim. Por favor, não me faça perder o que eu não tive pra te dar, e ainda não tenho pra perder.

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