quinta-feira, 2 de abril de 2009

Parte Um, Verso Dois

15:13hrs, 22 de Agosto, 2008:

Já faz um mês desde que esse circo foi armado. Duas semanas desde a última vez que vi minha irmã, pra horas depois descobrir que o telefone estava morto. Pouco tempo mais desde que o idiota paranóico apareceu na porta do apartamento. Não faço idéia se minha irmã estaria viva à essa altura... A caminho do mercadinho, passei em frente ao prédio aonde morava o namorado dela, e não vi sinais da presença de alguém no apartamento dele. O que não quer dizer nada, afinal de contas, mas não tive coragem de me aventurar dentro do prédio... Distante da luz do dia, o único lugar que confio é meu próprio apartamento, e com ressalvas. Não sei o que pode haver nos corredores e halls dos prédios, esperando um incauto procurar uma irmã em um de seus apartamentos. Não sei se quero descobrir. Não sei sequer se quero saber se minha irmã realmente está viva... Não se faz as perguntas para as quais não se quer ouvir a resposta.
Fora o aperto no coração na minha passagem pelo tal prédio, a expedição até o mercado foi pacífica. Nenhum horror digno de um mês trancafiado em meu quarto me abordou. De qualquer forma, enquanto enchia meu fiel carrinho, meu escudeiro em tempos tão esquisitos, reparei numa coisa: as prateleiras estavam mais vazias do que na última vez em que saí do estabelecimento. E disso tenho certeza; afinal de contas, ainda não estou desesperado o suficiente pra começar a comer pickles, e vejo que as latas destes em conserva começam a ficar escassas. Bom sinal. Parece que não sou o único em regime semi-aberto de prisão domiciliar. Ao menos, ainda há alguém vivendo (ou sobrevivendo) por essa região. Penso que encontrar tal pessoa - ou pessoas - talvez me ajudasse a esclarecer o que aconteceu com essa cidade; talvez alguma delas saiba que sons estranhos são esses que ouço na noite. Mas descarto sair do apartamento se não por uma necessidade... Quanto mais ir ao mercado todo dia e tentar a sorte de, em um deles, encontrar a tal pessoa. Muita exposição desnecessária. Quanto mais quando eu nem se quer sei se ela ainda sobrevive desde a última vez que foi ao mercado...
Quando cheguei, a luz elétrica não funcionava. Temi que dessa vez fosse por definitivo, mas novamente, depois de dez minutos ela voltou ao normal. Prefiro nem pensar no que vai acontecer no dia em que a luz não voltar.
Me pego pensando novamente em minha irmã. Acho que a lógica não vai aguentar muito tempo mais... Sinto que em breve passarei em frente ao prédio e não terei forças para ignorá-lo. Sinto que em pouquíssimo tempo vou descobrir se ela ainda está viva.

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